terça-feira, 11 de janeiro de 2022

Crítica: A Ilha de Bergman / Bergman Island (2021)

"You do realise we're going to sleep in the bed where they shot Scenes From a Marriage"

Chris

*7/10*

Mia Hansen-Løve segue fiel aos seus temas - relações amorosas e familiares continuam a marcar a sua filmografia -, ainda que agora, em A Ilha de Bergman, prossiga em busca da origem da criação artística, da criatividade e da aproximação às inspirações cinematográficas.

Durante o Verão, Chris (Vicky Krieps) e Tony (Tim Roth), um casal de cineastas, instala-se para escrever em Fårö, a ilha sueca onde viveu o cineasta Ingmar Bergman. À medida que fazem progressos nos seus argumentos, em contacto com as paisagens da ilha, a fronteira entre a ficção e a realidade dilui-se.

Mia Hansen-Løve cria uma história de (des)amores e uma homenagem ao cinema. O início morno vai revelar-se um desafio onde o metacinema toma conta da narrativa. O filme dentro do filme, que leva, entretanto, a que ficção e realidade se fundam com simplicidade e encanto, causa impacto, mas há uma uma falta de equilíbrio em A Ilha de Bergman que põe muito a perder.

O fascínio do argumento de Chris em contraste com o desinteresse de Tony, enquanto a ouve contá-la, assemelha-se à inconsistência que se sente ao assistir a cada metade do filme de Hansen-Løve. Há uma transformação total da acção, assim que Chris encontra o rumo para a criação do seu filme. Já à realizadora faltou mais assertividade nas opções para contar as suas histórias, que deixa um travo agridoce no final das quase duas horas de duração.

Os inspiradores fantasmas de Ingmar Bergman percorrem todos os momentos da longa-metragem e é o cineasta o elemento metafísico presente em cada recanto da sua ilha, em cada memória e em toda a História do cinema que aquele local guarda. Ao optar por filmar em película, a realizadora tira o melhor partido da ilha, enquanto monumento histórico e útero da concepção artística, entre a natureza e o misticismo.

Nesta primeira incursão falada em inglês e com actores internacionais, Mia Hansen-Løve recupera as paixões de juventude mal resolvidas, enquanto explora todas as potencialidades da criação cinematográfica, com Bergman a guiá-la.

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