"We must keep on living."
Yûsuke Kafuku
*8.5/10*
Ryûsuke Hamaguchi conduz-nos pela estrada sinuosa das emoções em Drive My Car e, na sua aparente simplicidade, chega aos mais profundos sentimentos, dentro e fora do ecrã.
As três horas de filme propõem reflexão, introspecção e, todavia, nunca monotonia. Se, por um lado, uma morte precoce vem mudar a vida de várias personagens e o foco da acção, por outro, o Teatro - o texto e as palavras - tem um papel central na exorcização dos fantasmas que se teima em não deixar partir.
Yûsuke Kafuku (Hidetoshi Nishijima), actor de teatro e encenador, é casado com a argumentista de televisão Oto Kafuku (Reika Kirishima). "Subitamente, ela morre e deixa para trás um segredo. Dois anos depois, ainda incapaz de lidar com a perda, Yûsuke assume o cargo de director num festival de teatro em Hiroshima, para onde viaja de carro. Lá, conhece Misaki que passa a ser a sua motorista particular. Misaki fala pouco, mas durante o tempo que passa com ela, Yûsuke aprende coisas que até então ignorava."
Ryûsuke Hamaguchi e Takamasa Oe (que adaptam um conto de Haruki Murakami) constroem uma narrativa contida, onde todas as personagens vão surgindo em crescendo no decorrer do filme: aos poucos, exteriorizam emoções e revelam segredos. Os 40 minutos antes dos créditos iniciais, introduzem a relação de Yûsuke e Oto. Depois disso, o luto toma conta da rotina do viúvo, a quem a mudança para Hiroshima, mesmo que temporária, vem destabilizar.
Nestes encontros, o protagonista é desafiado por si mesmo e por quem o rodeia. A morte paira em torno do passado das personagens centrais, bem como o luto e o (quase eterno) sentimento de culpa. É urgente a necessidade de superação e o reencontro consigo próprios.
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