quarta-feira, 23 de março de 2022

Crítica: Licorice Pizza (2021)

"You have a warm smile, which is very powerful. And... you have a very Jewish nose."
Mary Grady


*7.5/10*

Licorice Pizza é uma viagem jovial e vibrante aos anos 70. Paul Thomas Anderson parte de vivências suas e do contexto da época e cria um filme que, conduzido pelas hormonas da adolescência e dos primeiros amores, percorre as mais inesperadas aventuras entre o universo cinematográfico, dos negócios e da política.

Eis "a história de Alana Kane e Gary Valentine, que crescem e se apaixonam enquanto deambulam pelo vale de San Fernando em 1973."

O deslumbramento pelo mundo do cinema e da televisão a que estão expostos os jovens actores ou figurantes - quer nos anos 70, quer na actualidade - leva as vidas de Alana e Gary a cruzarem-se, apesar da diferença de idades. Depressa se desenvolve uma amizade - onde o interesse romântico nunca deixa de pairar -, e novas perspectivas de carreira para os dois, que se tornam aliados e sócios.


Se, por um lado, Alana consegue que se abram algumas portas no mundo do cinema, por outro, continua a alinhar nas extravagantes ideias de negócio do amigo adolescente. E se vê Gary em constante reinvenção, constata também a sua estagnação enquanto jovem adulta. O seu olhar vagueia entre a estranha relação (quase) amorosa com Gary; os diferentes pontos que os separam; e a expectativa de uma vida adulta estável e na defesa do que realmente importa.

Pequenos pormenores traçam a actualidade política que se vive no momento da acção de Licorice Pizza - desde anúncios ou notícias em jornais ou na televisão - ; personagens ficcionais recordam figuras e problemáticas relevantes da época; e as aventuras mais imprevisíveis transportam a plateia para a verdadeira magia do cinema, hiperbolizando as loucuras da adolescência. Nesta aparente amálgama temática, os dois protagonistas crescem, partilham as mais inusitadas experiências e constroem laços no meio do caos.


Na recriação da época, a direcção artística e o guarda-roupa são exímios, não deixando faltar os padrões característicos da moda, nem cada pequeno (ou grande) objecto que remete para os anos 70. Também visualmente, Paul Thomas Anderson não desilude, com uma direcção de fotografia sempre fabulosa, quer nas cenas diurnas como nocturnas, tirando o melhor partido da sua tão amada película. 

No elenco, os estreantes Alana Haim e Cooper Hoffman formam um dos pares mais adoráveis do cinema recente, e partilham uma aura tão provocadora, como inocente e especialmente divertida. Com uma breve mas icónica participação, Bradley Cooper surge excêntrico e imprevisível na pele de Jon Peters.


Licorice Pizza é um regresso à adolescência de Paul Thomas Anderson, onde despertam paixões, procura-se o verdadeiro sentido da vida, ao mesmo tempo que não se quer crescer. Uma obra que transborda luz e cor, desencantos e alegrias, com a originalidade que caracteriza o realizador.

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