terça-feira, 22 de março de 2022

Crítica: West Side Story (2021)

"All my life, it's like I'm always just about to fall off the edge of the world's tallest building. I stopped falling the second I saw you."

Tony

*7/10*

Steven Spielberg tomou as rédeas de uma arriscada readaptação cinematográfica do musical de 1957, West Side Story. No cinema, até agora, apenas Jerome Robbins e Robert Wise tinham concretizado a longa-metragem icónica de 1961. 

As comparações são inevitáveis, mas o que Spielberg criou está longe de ser uma cópia da obra de Robbins e Wise, tendo como principal foco o original de Arthur Laurents, adicionando um toque de actualidade às problemáticas já abordadas no musical.

"O filme conta a clássica história de rivalidades ferozes e amor jovem em 1957, na cidade de Nova Iorque. Uma história política, mas também pessoal, de Maria e Tony, dos Jets e Sharks."

A história é a mesma: lutas entre gangs rivais pelo território que partilham - mas que, no filme de 2021, se está a desintegrar aos poucos, entre ruínas e demolições -, e um amor proibido, ao estilo de Romeu e Julieta, entre o casal protagonista, cada um ligado a uma das facções.

O argumentista Tony Kushner e o realizador constroem a narrativa fazendo o paralelismo entre a degradação da sociabilidade e da convivência e a degradação (até mesmo desaparecimento) do bairro onde vivem. 

Ao mesmo tempo, e apesar do racismo já latente na história original, o filme de Spielberg quebra alguns clichés (e tabus da época): os vândalos são os Jets, os Sharks são estudantes e trabalhadores, esforçados para melhorar as suas condições de vida; a transexualidade (ou género não-binário) de Anybodys é abordada com maior impacto; e até mesmo a multiculturalidade da cidade, que vai muito além dos porto-riquenhos e dos supostos Jets "nativos", são alguns dos elementos que tornam o filme mais actual em costumes.

Neste West Side Story "moderno", há menos coreografias, mas mais tempo e espaço para algum desenvolvimento emocional das personagens, sendo que quase todos os protagonistas têm um background bem definido, que justificará muitas dos actos que vêm a tomar ao longo da trama.


Steven Spielberg criou um filme mais luminoso que o de 1961, que se passava maioritariamente à noite. E se, por vezes, tal opção se justifica (por exemplo, o tema America ser interpretado durante o dia), há demasiados momentos em que a utilização de lens flare, ofuscantes e artificiais, é abusiva, distraindo do foco da acção. Apesar disso, o West Side Story de 2021 mantém o potencial das cenas nocturnas, em especial entre gradeamentos e escadas, e criando um leve assombro no meio de um cenário decadente de ruínas e montanhas de entulho, decorrentes da destruição dos prédios do bairro.

Há interpretações carismáticas, em especial Ansel Elgort (como Tony), Ariana DeBose (como Anita) e David Alvarez (como Bernardo). O regresso da veterana Rita Moreno, como Valentina, homenageia o filme de 1961 e vem carregada de nostalgia.

As performances musicais são competentes fazendo jus aos originais de Leonard Bernstein e Stephen Sondheim, com direcção e coreografia de Jerome Robbins; com opções estéticas onde o guarda-roupa e a direcção artística causam grande impacto e são de importância extrema para a construção da identidade do filme de Spielberg.

Longe de ser necessária, esta nova versão de West Side Story consegue reavivar os temas fortes do musical original, com um toque de personalidade e actualidade.

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