*7.5/10*
Uma longa viagem de comboio pela Rússia gelada proporciona o encontro entre dois passageiros, que serve de mote para o filme de Juho Kuosmanen, Compartimento No. 6. Baseado no romance de Rosa Liksom (que acontece ao longo dos anos 80 na URSS), o argumento passa-se alguns anos após a dissolução da União Soviética.
A câmara de filmar, o walkman e as cassetes, cuja fita se enrolava com a ponta de um lápis, ou a ausência de telemóveis - pontuada por telefones fixos ou cabines telefónicas - são o maior símbolo de nostalgia e silêncio, e demarcam bem a época dos acontecimentos. A opção de Juho Kuosmanen em filmar em 35 mm potencia toda esta relação espaciotemporal de Compartimento No. 6, entre noites geladas, o pouco conforto da carruagem onde Laura e Ljoha viajam, os objectos de cada um e a simplicidade de gestos e palavras. A intimidade é conquistada com os planos claustrofóbicos dentro do pequeno compartimento, mas igualmente com alguns planos sequência que seguem Laura em casa de Irina, pelos corredores do comboio e pelas várias povoações russas onde vai parando.
E na melancolia da paisagem e dos sentimentos de Laura e Ljoha, há momentos de humor que aligeiram o tom de Compartimento No. 6 e, em conjunto, edificam as mudanças que ambos sentem em si e na perspectiva que têm do mundo. Juho Kuosmanen oferece um road movie de partilha e crescimento nos cenários gelados da Rússia.
Sem comentários:
Enviar um comentário