*7/10*
Cruzando fronteiras entre ficção e documentário, Ilha dos Pássaros, de Maya Kosa e Sérgio da Costa, é uma viagem introspectiva às contradições da humanidade, através de um centro de reabilitação para aves. Dos dilemas pessoais aos problemas ambientais, o filme constrói-se entre o delicado e o visceral.
"Depois de um longo período de isolamento, Antonin, um jovem a sofrer de exaustão persistente, redescobre o mundo num centro de reabilitação para pássaros. Neste estranho lugar, pássaros feridos e almas perdidas coabitam, embalados pelo som omnipresente dos aviões."
No centro de reabilitação de aves, não são apenas os pássaros que estão isolados e enjaulados, a sarar lesões ou traumas. Cada personagem humana assemelha-se aos animais dos quais cuida. Alheados do mundo real, redescobrem o que se passa fora do centro pelos pacientes que lhes chegam, e tentam curar as suas próprias feridas. O constante som dos aviões é o alarme que soa e faz a realidade chegar mais perto deste retiro silencioso e solitário.
Maya Kosa e Sérgio da Costa filmam em película de 16mm esta realidade (ficcionada) paralela, que destaca a beleza dos pássaros e o ambiente melancólico que paira sobre o local. Há uma dualidade latente ao longo de Ilha dos Pássaros com que Antonin e a plateia são confrontados logo à chegada: é necessário o sacrifício de uns - os ratos - para a sobrevivência de outros - as aves. E eis que surge, desde logo, a dificuldade em estabelecer uma fronteira ética e moral, e também a plateia entra num conflito interno.
O silêncio impera, e o som dos pássaros é a banda sonora "natural", de acalmia, entre os poucos diálogos e a tranquila narração de Antonin - nunca excessiva. Mas apesar desta tranquilidade e beleza das espécies, há sempre uma sensação de desconforto, como se a realidade fora do centro condicionasse gestos e acções.
Ilha dos Pássaros é um retiro para contemplar mas também questionar, e curar feridas dos animais, dos Homens e do Mundo.
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