quarta-feira, 7 de setembro de 2022

Crítica: O Bom Patrão / El buen patrón / The Good Boss (2021)

*7/10*

Em O Bom Patrão, Fernando León de Aranoa trata os abusos laborais com um humor mordaz e empolgante. Ao comando da longa-metragem (e da fábrica de balanças) está o camaleónico Javier Bardem numa prestação genial.

"Ansiosamente a aguardar pela visita da comissão de trabalho que garante um prémio de excelência empresarial, o proprietário de uma empresa de fabrico de balanças industriais (Javier Bardem) tenta resolver, em tempo record, os problemas dos seus trabalhadores que são, igualmente, os seus próprios problemas. Tudo terá que estar em perfeito equilíbrio!"

Efectivamente, equilíbrio é algo que está em falta na vida de Blanco, o dono da empresa de balanças que quer equilibrar tudo em seu redor. As suas boas intenções são questionáveis desde o início do filme, e, por muitos esforços que faça para resolver a vida de todos os que o rodeiam, tudo o que para ele importa são os prémios para a sua empresa e manter a vida de aparências que leva. 

Fernando León de Aranoa constrói a narrativa em torno do tão esperado dia em que o comité irá à fábrica para avaliar o seu funcionamento. Só se sabe que estará para breve. E todos os acontecimentos se precipitam nos poucos dias que antecedem a visita, com o mundo de Blanco a começar a desabar e ele sempre na luta pelo seu reequilíbrio, num circulo de vícios e interesses. Desde o único funcionário despedido que monta guarda à entrada da empresa para que seja readmitido, ao assédio sexual no trabalho, traições, abusos laborais, chantagens, corrupção, favores ou ameaças... acção não falta na vida de Blanco.

Na aparente simplicidade de O Bom Patrão, há pormenores que são pistas para os momentos inesperados que se seguem, tudo executado com ritmo e um humor negro tão eficaz que é inevitável não torcer pelo protagonista - qual anti-herói, arrogante e egocêntrico.

Para isso, muito contribui Javier Bardem, cuja caracterização só contribui para reforçar o quão versátil e carismático o actor é. Se Blanco segura as rédeas da empresa - e da vida profissional e privada dos seus funcionários -, é Javier Bardem quem comanda o O Bom Patrão - sem desprimor para o excelente argumento que Aranoa transpõe para o ecrã.

Satírico e eficaz, O Bom Patrão convida a rir, sem culpas, das tragicomédias que envolvem a fábrica de balanças mais desequilibrada do cinema e seus trabalhadores.

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