terça-feira, 20 de dezembro de 2022

Crítica: Triângulo da Tristeza / Triangle of Sadness (2022)

"A Russian capitalist, and an American communist."

Dimitry

*5.5/10*

Ruben Östlund distingue-se pela forma mordaz como conta as suas histórias, exemplo disso são Força Maior e, principalmente, O Quadrado, onde a criatividade se funde com a crítica social. Triângulo da Tristeza não abandona este criticismo cínico, mas é incapaz de concretizá-lo como os seus antecessores. 

O realizador perde-se em exageros e em oscilações narrativas que fazem com que Triângulo da Tristeza pareça três filmes em um, demasiado longo e nada subtil.

"Carl e Yaya, modelos e influenciadores no mundo da moda, são convidados para um cruzeiro a bordo de um luxuoso iate na companhia de um oligarca russo e de um traficante de armas inglês. O capitão, idiossincrático e alcoólico, muito dado a citar Marx, decide punir os passageiros servindo um lauto jantar durante uma forte tempestade. Tudo termina de forma catastrófica com Carl, Yaya e os multimilionários encalhados numa ilha deserta acompanhados por uma das empregadas de limpeza da embarcação. A hierarquia sofre uma súbita reviravolta."

E se os pisos do cruzeiro são o símbolo da pirâmide do poder, com os ricos no topo e os empregados mais pobres - na sua maioria migrantes - no fundo (a trabalhar na limpeza ou na casa das máquinas), a chegada à ilha vem inverter papéis. 

Ironia não lhe falta, mas Triângulo da Tristeza é o descontrolo de Ruben Östlund, que insiste nos temas até à exaustão, seja uma discussão de casal sobre quem paga o jantar ou o desejo de uma milionária russa de que toda a tripulação do cruzeiro vá dar um mergulho. Além disso, há uma desconexão entre as partes e enormes quebras de ritmo, sendo quase impossível ver o filme sem um bocejo.

Se Triângulo da Tristeza se resumisse apenas à pouco mais de meia hora que dura o Jantar do CapitãoÖstlund teria criado uma obra tresloucada e certeira, com os momentos mais inesperados e hilariantes, e uma profunda e ébria conversa sobre política e economia entre "um russo capitalista e um americano comunista". Tudo o resto é mais do mesmo, conversas vazias, as críticas do costume, da luta de classes às redes sociais. 

Dinheiro e Poder estão sempre ao comando deste barco, que está longe de ir a bom porto, e cujo Capitão alcoólico, interpretado por Woody Harrelson, será, porventura, a personagem mais entusiasmante da longa-metragem de Östlund. Uma Palma de Ouro de aborrecimento.

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