quarta-feira, 4 de janeiro de 2023

Crítica: Os Fabelmans / The Fabelmans (2022)

"Family, art. It will tear you in two."
Uncle Boris


*7.5/10*

Steven Spielberg filma a sua magia do Cinema em Os Fabelmans, um épico autobiográfico em jeito de elogio à Sétima Arte e à família. Uma obra íntima e tocante, que reflecte a alma do seu autor. 

"Sammy Fabelman (Gabrielle LaBelle) está empenhado em fazer cinema, um interesse que é exaltado e defendido pela sua mãe com veia artística, Mitzi (Michelle Williams). O pai de Sammy, o bem-sucedido cientista Burt (Paul Dano), apoia o trabalho de Sammy mas considera-o um passatempo pouco sério. Ao longo dos anos, Sammy torna-se um autêntico documentarista das aventuras da família e realiza produções cinematográficas amadoras cada vez mais elaboradas, protagonizadas pelas irmãs e amigos. Aos 16 anos, Sammy é simultaneamente o principal observador e arquivista da história da família. Mas quando se mudam para oeste, Sammy descobre um facto desolador sobre a mãe que vai redefinir a relação entre os dois e alterar o seu futuro e o de toda a família."


Os Fabelmans espelha Spielberg e a sua filmografia em cada detalhe: na luz, nos temas em que toca, nas presença das crianças, na banda sonora. Ao mesmo tempo que cria um filme coming-of-age, partilha com o público a sua própria infância e adolescência (entre os 7 e os 18 anos) e todos os altos e baixos da sua família - e como o impactaram, tornando-o no cineasta que é actualmente -, não deixando de elogiar a película, filmando em Super 8, 16mm e 35mm.

Oriundo de uma família de "cientistas contra artistas" - como diz Mitzi a dado momento -, Sammy (ou Steven) cresceu com a paixão pelo cinema, incentivada pela mãe e encarada como um mero passatempo pelo pai, gerando em si alguma revolta. Os Fabelmans constrói-se essencialmente sob a dinâmica familiar, as mudanças de casa devido aos empregos do pai e as depressões da mãe. 


Apesar de muitos momentos novelescos - afinal, é mesmo a vida real ficcionada -, há pormenores tão simples que mostram a verdadeira magia do cinema: o olhar triste da mãe de Sammy, a sala de projecção improvisada dentro do armário, as mãos usadas como tela ou mesmo a inesperada presença do tio Boris, de importância decisiva para Sammy

Todos os momentos em que o jovem faz o trabalho de montagem dos seus filmes têm uma aura quase secreta- entre truques e descobertas (a grande revelação feita por Sammy, que marcará o início da viragem na sua vida, acontece também no seu quarto, enquanto monta o filme do acampamento em família) -, e transformam-se num acto de plena partilha quando as imagens, já editadas, são projectadas para o público, seja em casa com a família, para o grupo alargado de amigos (quase todos eles actores ou figurantes na acção) ou perante toda a escola.


De regresso, está a habitual colaboração com John Williams e é notável como, mesmo numa obra tão íntima, a banda sonora do compositor assenta na perfeição a cada momento do filme, entre a inocência e todas as reviravoltas do crescimento.

Eis Steven Spielberg  na sua mais pura essência. Os Fabelmans é partilha, amor e aprendizagem - até à genial última cena.

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