segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023

Crítica: Holy Spider (2022)

*7/10*


Ali Abbasi inspirou-se num caso verídico e criou Holy Spider, um thriller cru, que denuncia a violência contra as mulheres, a toxicodependência e a ténue linha que separa a religião e a justiça no Irão.

"Em 2001, uma jornalista de Teerão mergulha nos subúrbios mais mal afamados da cidade para investigar uma série de homicídios de mulheres. Descobre rapidamente que as autoridades locais não têm pressa em resolver o caso. Os crimes são alegadamente obra de um homem, que afirma estar a purificar a cidade dos seus pecados, predando prostitutas durante a noite."


Holy Spider é o espelho do lugar da Mulher na sociedade iraniana. A misoginia é o móbil do crime, e o criminoso não mostra qualquer arrependimento por cada vítima abandonada num descampado. O alvo são as mais frágeis, as que se prostituem e que entram no vício da droga - tema raramente abordado quando se fala no Irão.

Zar Amir Ebrahimi dá corpo a Rahimi, a mulher corajosa que resolve fazer o trabalho das autoridades, revoltada pela sua inacção e pelo crescente número de vítimas, sem quaisquer suspeitos em vista. Uma interpretação intensa e desafiante que lhe valeu o prémio de Melhor Actriz no Festival de Cannes 2022.


Ali Abbasi
filma, de um ponto de vista feminista, a atitude de superioridade dos homens em relação a todas as mulheres, em diversas circunstâncias, a conivência ou inacção das autoridades, o apoio da família do assassino, a admiração dos populares e a crença cega de que a religião não condena os seus actos.

Rodado fora do Irão, Holy Spider faz uma espécie de ajustes de contas com a crueldade da sociedade iraniana, numa denúncia ao mundo.

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