quarta-feira, 15 de março de 2023

Crítica: A Baleia / The Whale (2022)

"I need to know that I have done one right thing with my life!"

Charlie

*8.5/10*

Darren Aronofsky está de regresso ao cinema opressivo e naturalista com que começou a construir a sua filmografia e personalidade enquanto cineasta. A Baleia lembra The Wrestler no protagonista decadente e com relações familiares frágeis que quer remediar a todo o custo.

"Num apartamento degradado no Idaho rural, rodeado de ecrãs e caixas de comida, um homem com mais de 200 quilos chamado Charlie come obstinada e determinadamente até à morte. À medida que o inevitável se aproxima, a sua amiga Liz, uma enfermeira ateia cínica, e Thomas, um jovem e esperançoso missionário mórmon, tentam encontrar em Charlie a vontade de ser salvo, física e espiritualmente. Contudo, só a amarga Ellie, a filha adolescente de Charlie, o pode fazer ver qualquer tipo de futuro para além do seu desespero actual."

Baseado na peça de teatro de Samuel D. Hunter, A Baleia é um filme degradante que mostra um homem a desistir de viver. Da casa desordenada onde se mexe com dificuldade, dá aulas online, sem mostrar a cara, e come incessantemente, num autoconfinamento. Uma interpretação de total entrega por um Brendan Fraser renascido, exímio ao mostrar a degradação física e psicológica da personagem, e que carrega o sofrimento e o peso das próteses e maquilhagem que a equipa de caracterização lhe colocava antes das filmagens.

O filme passa-se ao longo de uma semana particularmente agitada na vida do solitário Charlie. A enfermeira Liz tenta fazê-lo ir ao hospital, sem sucesso; o insistente missionário Thomas tenta salvá-lo pela fé; e a filha adolescente, Ellie, dá-lhe aquilo que ele já não parece ter: esperança. 

Aronofsky é exemplar em criar um ambiente claustrofóbico, optando desde logo por um formato de imagem quadrado (1.33) que enclausura movimentos, sentimentos e emoções, e uma banda sonora que acentua todas estas sensações. Com as janelas corridas, um ambiente sombrio em casa, muita comida, desarrumação e memórias fechadas à chave, é assim que Charlie (sobre)vive. Nos momentos de aflição, um texto sobre Moby Dick é a sua medicação. E eis uma das Baleias do título, sendo que a mais evidente será o protagonista obeso.

A Baleia é uma obra de redenção do protagonista, mas igualmente do realizador que voltou às origens e aos grandes filmes. 

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