terça-feira, 7 de março de 2023

Crítica: O Que Podem as Palavras (2022)

*7/10*

Em O Que Podem as Palavras, Luísa Marinho e Luísa Sequeira fazem um retrato de três escritoras, Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa, e da obra que as uniu contra o Estado Novo, a censura e o patriarcado português.

"Em 1972, Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa publicaram As Novas Cartas Portuguesas, abordando temas proibidos e censurados durante o Estado Novo, como a Guerra Colonial, o adultério, a violação ou o aborto. O livro foi imediatamente banido e as escritoras julgadas por crimes contra a moral. O processo judicial provocou ondas de protesto pelo mundo, construindo uma rede internacional de solidariedade. Em O que podem as Palavras, as 'três Marias' contam a sua própria história, antes e depois de uma das primeiras grandes lutas pela causa feminista em Portugal."

As realizadoras constroem a narrativa a partir de entrevistas da poetisa Ana Luísa Amaral (a cuja memória é dedicado o documentário) a cada uma das três Marias. Para além da sinceridade dos testemunhos, imagens de arquivo e figuras animadas das três autoras ilustram os acontecimentos relatados, intercalados com a narração de excertos da obra.

Agressões ou livros censurados, nada demoveu as autoras de se reunirem e criarem um novo livro escrito a três mãos, abordando tópicos sensíveis para o Estado Novo e onde a condição da Mulher estava em foco. Reuniram-se meses a fio e criaram As Novas Cartas Portuguesas, desde logo proibido pela censura, sendo levadas a tribunal por crimes contra a moral - mais uma tentativa de humilhação a estas mulheres emancipadas, que o Estado não queria como modelo.

A situação foi tão extraordinária e as autoras tão resolutas, que o caso ultrapassou fronteiras e o apoio internacional chegou. Para além de escritoras estrangeiras ligadas a movimentos feministas se colocarem do lado das portuguesas, também a  imprensa internacional destacou a censura às três Marias.

O Que Podem as Palavras é uma homenagem merecida a estas três mulheres sem medo e ao seu legado e faz querer descobrir mais sobre as autoras e sobre as suas lutas feministas portuguesas.

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