"I don't think I've ever had a real family Christmas like this before. Thank you, Mary."
*7.5/10*
Com Os Excluídos (The Holdovers), Alexander Payne regressa à aura melancólica que também acompanhou Nebraska (2013), desta vez para se focar em três solitários que se vêem obrigados a passarem juntos a quadra natalícia. Uma comédia dramática de uma beleza triste, mas inesperadamente aconchegante.
O filme "acompanha um professor rabugento de uma prestigiada escola americana, que é obrigado a ficar no campus durante as férias de Natal para cuidar dos poucos alunos que não têm para onde ir. Entretanto, ele cria uma improvável amizade com um desses alunos - um jovem problemático e inteligente - e com a cozinheira-chefe da escola, que acabou de perder um filho no Vietname".
Há um amor reprimido nas três personagens principais que, na impossibilidade de ser partilhado com quem ou aquilo que desejariam, é expelido em forma de insolência, mau feitio, exigência e lágrimas (e muito álcool). A união dos três excluídos do título forma uma família de acolhimento temporário mútuo para cada um. Uma identificação pelas emoções, revoltas e desgostos que se unem na difícil época natalícia.
Aos poucos, revelam-se segredos, ultrapassam-se as barreiras do desgosto e cria-se uma genuína amizade e admiração. O foco recai principalmente na relação entre aluno e professor que, a certo momento, seguem pelo caminho do road movie: uma breve viagem a Boston muda convicções e serve de consequente mudança nas suas vidas.
Em Os Excluídos, não faltam referências à época dos acontecimentos. A opção de Payne e da sua equipa de transportar todo o ambiente de início dos anos 70 para o filme inicia-se logo no surgimento do logotipo da Universal e Miramax, reflectindo-se, no decorrer da acção, no excelente trabalho de direcção artística, guarda-roupa e fotografia. Abundam os tons neutros ou frios, e o realizador só peca por não ser filmado em película, o que adensaria, mais ainda, esta viagem no tempo cinematográfica, e escusando-se assim a necessidade de efeitos criados em pós-produção, que simulam as marcas do filme analógico.
Para além do enredo que balanceia o humor e o drama, Os Excluídos é um filme que também muito deve aos actores. Paul Giamatti confere uma sobriedade cómica ao protagonista, entre a exigência enquanto professor que, no fundo, esconde sérias dificuldades de relacionamento com os outros. O uso do estrabismo da sua personagem introduz um comic relief, mesmo em momentos mais soturnos da acção. Da'Vine Joy Randolph tem uma interpretação contida, mas carismática, o rosto e o desgosto de uma mãe que perdeu o filho para a guerra, mas que continua a trabalhar num local em que convive com tantos outros jovens, todos os dias. Por fim, a grande surpresa da longa-metragem, o estreante Dominic Sessa, que conjuga em Angus um misto de sentimentos e sensações, da revolta constante, ao medo do futuro e à saudade.
Os Excluídos é o regresso de Alexander Payne aos filmes sóbrios, comoventes e nostálgicos, sempre com o equilíbrio de elementos cómicos, e personagens empáticas e cheias de humanidade.
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