terça-feira, 4 de junho de 2024

IndieLisboa 2024: Banzo (2024)

"O Mal não sei deixa fotografar facilmente. Temos de dar uma ajuda"
Alphose


*5.5/10*

Em Banzo, Margarida Cardoso parte de uma premissa tão pertinente como perturbadora: a saudade, traduzida em doença, que os escravos sentiam quando levados à força da sua terra natal para outro local. O primeiro registo deste tipo de "depressão" foi registado nos escravos levados da costa africana para o Brasil.

O filme passa-se em "1907. Afonso recomeça a vida numa ilha tropical africana como médico de uma plantação, onde terá de curar um grupo de serviçais 'infectados' pelo Banzo, a nostalgia dos escravos. Morrem às dezenas, de inanição ou suicidando-se. Por receio de contágio, o grupo é enviado para um morro chuvoso, cercado por floresta. Ali, Afonso tenta curar os serviçais, mas a incapacidade de entender o que lhes vai na alma revela-se mais forte que todas soluções."


Ninguém vive feliz naquele degredo - nem Senhores, nem serviçais, nem médicos ou capatazes -, e se, por um lado, alguns se suicidam ou deixam de viver, os restantes sobrevivem acomodados à sua sorte e cumprem as suas funções. O recém-chegado médico é quem parece mais curioso por tentar compreender e curar aqueles homens e mulheres que se recusam a comer. A fronteira da língua é o maior bloqueio ao entendimento entre o médico e os doentes, mas entre os homens brancos, ninguém colabora, parecendo querer atrasar ou mesmo lograr qualquer tentativa de cura dos doentes - que Afonso (Carloto Cotta) acaba por concluir que será, unicamente, o regresso dos serviçais às suas terras.

A figura do fotógrafo, Alphonse (Hoji Fortuna), um dos únicos homens negros verdadeiramente livres daquele local, um nómada que regista a realidade em que cada um quer acreditar, é uma personagem de destaque e apela às maiores reflexões quer junto de Afonso como da plateia.


Banzo revela um bom trabalho de direcção de fotografia, que filma São Tomé e Príncipe como uma terra sombria e chuvosa, onde muitas almas pairam entre a vegetação e espiam os vivos e os quase mortos. Contudo, há um constante distanciamento das personagens com a opção de filmar sempre com relativa distância, existindo uma quase ausência de grandes planos. Essa distância passa para o outro lado da tela e é das maiores fraquezas do filme. Se, por um lado, há o choque da doença e da forma como se tratavam os quase escravos, por outro, há algo que impede a aproximação emocional às personagens e ao seu passado.

Margarida Cardoso cria uma obra que promete muito e sabe a pouco. Banzo não chega a atingir a profundidade narrativa e visual que esta temática exigiria.

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