Da Competição Nacional de Curtas-metragem do IndieLisboa 2024, analisamos neste artigo os filmes: Tão pequeninas, tinham o ar de serem já crescidas, de Tânia Dinis; Nocturno para uma floresta, de Catarina Vasconcelos; e Man of Aral, de Helena Gouveia Monteiro.
Tão pequeninas, tinham o ar de serem já crescidas, de Tânia Dinis
"Este filme combina o tratamento ficcional e documental, e parte do arquivo fotográfico e de imagens reais e do testemunho oral de várias mulheres, de Trás-os-Montes, Beira, Alto e Baixo Minho, que, entre os anos 40 e 70, vieram para o Porto trabalhar como criadas de servir."
A partir das memórias das entrevistadas, Tânia Dinis filma, de um ponto de vista privilegiado, as histórias das mulheres que vieram do campo para a cidade, ainda crianças, tratar da casa e dos filhos de patrões endinheirados. Com poucos direitos e salário reduzido - do qual, a maioria, era enviado para os pais -, elas cresciam mais rapidamente do que a idade e o corpo pediam, deixando de lado a infância e a juventude para servir os outros e verem, muitas vezes, os seus direitos suprimidos.
A realizadora junta os testemunhos falados às fotografias de época que cada mulher ainda guarda consigo, artigos de jornais ou boletins de destaque das lutas e conquistas dos sindicatos das empregadas domésticas, e contrapõe imagens actuais, filmadas em película de 16mm, para mostrar como ainda hoje há que lutar pelo trabalho digno das empregadas domésticas.
Tão pequeninas, tinham o ar de serem já crescidas é o registo de uma época de pobreza extrema e das suas protagonistas, crianças que cresceram demasiado rápido, privadas da sua infância e família.
Nocturno para uma floresta, de Catarina Vasconcelos
"No século XV, em Portugal, um grupo de monges ergueu um muro em redor de uma floresta e impediu a entrada das mulheres. Mas as mãos dos vivos nem tudo podem controlar: no mundo invisível, onde é de noite e apenas as almas iluminam a floresta, as mulheres construíram o seu reino, sem muros."
Catarina Vasconcelos parte de acontecimentos históricos para criar uma curta-metragem certeira, sarcástica e feminista. Do século XV para a actualidade, em Nocturno para uma floresta, os direitos das mulheres eram diminuídos, e mal seria da pecadora que tentasse cruzar o muro proibitivo. Contudo, as almas femininas, ano após anos, debatem os seus direitos e o futuro de um famoso quadro de Josefa d'Óbidos, Sagrada Família.
O trabalho de direcção de fotografia realça as cores e a beleza da Natureza, dotando-a, ao mesmo tempo, de uma magia enigmática - potenciada pelas almas que a espiam e, à distância, tomam decisões.
Man of Aral, de Helena Gouveia Monteiro
"O filme Man of Aral replica a erosão da paisagem e o desaparecimento do Mar de Aral através de alterações químicas na própria película, confrontando temporalidades humanas e geológicas através de uma sequência de imagens distantes de um território marcado de forma perene pela atividade humana."
Helena Gouveia Monteiro mostra o processo de desertificação do Mar de Aral, na Ásia central, através de imagens de satélite, "a partir de uma sequência digital em time lapse, transferida para película de 16mm". Este processo manual, transforma as imagens base e cria uma multiplicidade de efeitos e cores, que se fundem com o desastre ambiental. Man of Aral é experimentalismo puro - a partir de uma fusão entre digital e analógico -, ao mesmo tempo que serve de alerta para as consequências da intervenção humana na Natureza.
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