terça-feira, 8 de outubro de 2024

Crítica: Joker: Loucura a Dois / Joker: Folie à Deux (2024)

"Got a joke for us today?"


*6/10*

Depois de Joker (2019) ter feito renascer o supervilão de uma forma totalmente diferente, cheia de engenho e beleza, o desapontamento surge agora perante a sequela Joker: Loucura a Dois. Um filme pouco necessário, que não aproveita as suas potencialidades, parecendo apenas uma extensão musical da história de Arthur Fleck, com Lady Gaga a acompanhar, sem chegar a brilhar.

"Em Joker: Loucura a Dois encontramos Arthur Fleck institucionalizado em Arkham, à espera de ser julgado pelos seus crimes como Joker. Enquanto luta contra a sua dupla personalidade, Arhtur não só encontra o amor verdadeiro, mas também a música que sempre esteve dentro dele."


O filme começa com uma animação, estilo Looney Tunes, onde o protagonista Joker enfrenta a sua malvada sombra - esse distúrbio de personalidade que não o deixa -, um aperitivo (e presságio) para o que aí vem.

A sequela mantém o ambiente pesado e soturno de Joker, mas junta-lhe canções, transformando-o num musical de supervilões, opção arriscada de Todd Phillips que, apesar de tudo, traz alguma vitalidade a uma história que simplesmente não avança - e é esse o desafio mais difícil de solucionar ao longo das mais de duas horas da longa-metragem. 

A tensão e o ambiente sombrio do primeiro filme regressam, pautados por cores inesperadas no meio da instituição e da cidade cinzenta, escura e chuvosa - dos chapéus-de-chuva coloridos à maquilhagem dos protagonistas -, em mais um excelente trabalho do Director de Fotografia Lawrence Sher. Mas o lado fortemente psicológico da mente de Arthur, esse ficou quase todo no primeiro filme. Agora surge apagado, triste e ostracizado por todos os que o rodeiam, apesar do realizador manter a humanização da personagem que começou em 2019. 


Joaquin Phoenix parece nunca ter abandonado Arthur Fleck ao longo dos anos que passaram e reencarna um homem cheio de traumas e sem saídas à vista, até conhecer Lee Quinzel (Lady Gaga). A paixão à primeira vista que Arthur julga sentir não resulta na esperada parceria que, na realidade, não chega a acontecer - partilham apenas canções em palcos imaginários, entre sonhos e desejos de um final feliz. Lady Gaga é subaproveitada. A sua presença e personagem poderiam ir muito além de uma cantora que dança e acompanha Phoenix ao longo dos temas, enquanto Arthur cai de amores por si. Haveria muito por explorar na mente de Lee.


Joker: Loucura a Dois é a tragédia e degradação do seu protagonista, num prolongar de sofrimento que não se deseja nem ao maior vilão. A música conduz o argumento sem rumo. Não sendo um mau filme, é essencialmente uma desilusão depois da grandeza do seu antecessor.

A cena final é, provavelmente, o melhor momento desta longa-metragem. Triste, realista e com uma capacidade de transcender-se a si própria. Um golpe de misericórdia para os dois lados do ecrã.

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