quinta-feira, 30 de outubro de 2025

Crítica: Depois da Caçada / After the Hunt (2025)

"I feel like deep inside I always expected this. I expected the rottenness in me to be seen by other people right before I managed to expunge it."
Alma Imhoff


*5.5/10*

Luca Guadagnino tem trabalhado a bom ritmo, com três filmes em dois anos. Depois de Challengers (2024) e Queer (2024), é a vez de Depois da Caçada (2025), um filme mais sóbrio e com muito menos da alma provocadora e ambiciosa do realizador.

A longa-metragem acompanha uma "professora universitária (Julia Roberts) que se encontra numa encruzilhada pessoal e profissional quando uma aluna excepcional (Ayo Edebiri) faz uma acusação contra um professor (Andrew Garfield), e um segredo obscuro ameaça vir à tona".


Luca Guadagnino escolheu um caminho menos colorido e vibrante, menos sensual e demasiado teórico, revelando uma faceta pouco habitual na sua filmografia. Sente-se uma preguiça narrativa e técnica pouco comum no realizador. Numa história que toca no movimento #metoo, neste caso a acusação de assédio de uma aluna a um professor, o realizador coloca a plateia perante grandes dissertações filosóficas e um leque de personagens dúbias e nada empáticas.

E esta característica comum às três personagens centrais - de Maggie, a alegada vítima, a Hank, o alegado agressor, passando pela professora e amiga comum, Alma -, é um dos poucos encantos do filme. Não é habitual o espectador sentir repulsa pelos protagonistas e não encontrar ninguém em quem confiar. Esse lugar desconfortável em que o realizador coloca quem assiste é um dos pontos fortes de Depois da Caçada. Tanto Alma como Maggie e Hank são intragáveis, misteriosos e carregados de uma perversão que repele o espectador, ao mesmo tempo que cria nele uma curiosidade mórbida, qual voyeur


Para esta espécie de magnetismo implacável, muito contribuem Júlia Roberts como Alma, segura e aparentemente inabalável, e Andrew Garfield na pele de Hank, um homem sensual, inteligente, mas inseguro e pouco confiável. O ponto fraco das interpretações está em Ayo Edebiri como Maggie, uma vítima pouco credível e sempre em overacting, tornando tudo demasiado forçado.

Depois da Caçada é um filme de muitas palavras e pouca acção, suspense q.b., que resulta numa prometedora mão cheia de quase nada. Salvo Julia Roberts e Andrew Garfield.

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