quarta-feira, 5 de novembro de 2025

Doclisboa 2025: Tales of the Wounded Land (2025)

*7/10*

Também o Líbano não tem saído incólume das investidas de Israel, e Tales of the Wounded Land (Hikayat elbeit elorjowani), de Abbas Fahdel, é espelho da destruição (resultado dos ataques de Israel, que duraram cerca de ano e meio e cessaram, aparentemente, em Novembro de 2024) que marcou a paisagem e cada um dos habitantes da região.

Neste caso, a câmara está do lado do realizador - franco-iraquiano, radicado no Líbano -  e da sua família, onde a filha pequena parece não estranhar ouvir os bombardeamentos enquanto brinca (e até os repete), como algo que se começa a tornar normal no seu quotidiano.

Da janela vê-se a guerra a aproximar-se, de dia para dia, da casa da família, em Nabatieh, no sul do país. Até que, para eles, só a fuga temporária pode ser a solução, deixando para trás a casa, os animais e os vizinhos que resistem. Tempos depois, dá-se o regresso e a constatação do que mudou e do que permaneceu. Mas, agora, a criança tem medo de voltar à casa dos pais. Entre o choque da destruição e o reencontro com quem ficou, o desgosto e a alegria misturam-se e a comoção é inevitável. 

As várias imagens captadas por drone dão a ideia real da destruição sem fim à vista, ao longo de muito quilómetros, e da morte ao filmar uma interminável procissão de caixões.

Filmado na primeira pessoa, Tales of the Wounded Land cria uma proximidade e envolvência muito fortes com a plateia e só peca pela duração excessiva de alguns planos repetitivos na ideia a transmitir. 

Segundo palavras de Abbas Fahdel: “O meu filme nasceu da necessidade de testemunhar uma guerra que destruiu as nossas vidas e os nossos lares e mostrar que, apesar de tudo, a resiliência e a humanidade continuam a florescer no meio das ruínas”. Mais uma guerra sem razão, que apaga a memória das terras e das gentes. Todavia, no meio dos escombros, há vidas que resistem e só procuram normalidade e paz.

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