"I had a dream my life would be so different from this hell I'm living!"Fantine
*6/10*
Muitas adaptações depois, foi Tom
Hooper quem decidiu levar Os Miseráveis, de Victor Hugo,
uma vez mais, para a grande tela. Depois de O Discurso do Rei lhe
ter valido o Oscar de Melhor Realizador, parece que não ponderou que
este musical poderia ser “areia demais para o seu camião”.
Duas horas e meia de canções depois, onde as poucas falas
não cantadas quase se contam pelos dedos, o desapontamento inunda a sala de
cinema. Uma longa-metragem com a dimensão de Os Miseráveis
merecia um tratamento à altura, ainda mais quando estamos perante um elenco de
peso, onde os grandes momentos são-nos proporcionados, acima de tudo, por Anne
Hathaway.
Com a França do século XIX como pano de fundo, a
longa-metragem musical conta uma história de sonhos desfeitos, paixão,
sacrifício e redenção, num testemunho intemporal da sobrevivência do espírito
humano. Jean Valjean (Hugh Jackman) é um ex-prisioneiro
perseguido durante décadas pelo cruel polícia Javert (Russell Crowe),
depois de ter desrespeitado a sua liberdade condicional. Quando Valjean
aceita cuidar de Cosette (Isabelle Allen/Amanda Seyfried),
a filha da sua operária Fantine (Anne Hathaway), as suas vidas
mudam para sempre.
Uma obra tantas vezes trabalhada
é um desafio e tanto para qualquer realizador, mesmo para o oscarizado Hooper.
O argumento não é extraordinário, mas há que fazer por torná-lo interessante e
cativante para o espectador. Errada foi a opção de quase todas as falas serem
cantadas. O que noutros casos poderia resultar, em Os Miseráveis
tanta canção apenas se traduz numa espécie de cansaço e distracção na plateia.
Mais diálogos e menos “cantigas” seria uma opção mais viável e certeira.
Os verdadeiros grandes momentos
do filme são-nos oferecidos por Anne Hathaway que prova a talentosa
actriz (e cantora) que ainda não havia demonstrado ser. Em 2012, O
Cavaleiro das Trevas Renasce já nos revelou alguma da sua versatilidade
enquanto Catwoman, mas, aqui, Hathaway prova uma sensibilidade
que emociona qualquer um. Em todas as cenas onde entra, a actriz enche o ecrã
com a sua forte e corajosa Fantine, e atinge o ponto alto de todo Os
Miseráveis quando interpreta o tema I Dreamed a Dream de corpo e
alma.
O restante elenco não brilha
especialmente. Hugh Jackman, inicialmente irreconhecível, encarna de forma competente Jean Valjean,
Helena Bonham Carter e Sacha Baron Cohen foram óptimas escolhas
para o casal mais divertido deste musical tão dramático, e oferecem-nos
momentos leves e de algumas gargalhadas, tal como já nos têm acostumado. Amanda
Seyfried e Eddie Redmayne, o par romântico da longa-metragem, não se
destacam especialmente, mas valem-lhes as vozes agradáveis que possuem. Já Samantha
Barks proporciona-nos bons momentos, assim como os estreantes Daniel
Huttlestone e Isabelle Allen que conseguem enternecer e cativar a
atenção da plateia. Por seu lado, Russell Crowe, apesar do excelente
actor que é, revelou-se um erro de casting, tanto pelo péssimo cantor que se revelou, pelo menos para filmes musicais, a que acresce o tom forçado que coloca na sua personagem.
Tecnicamente não há muito a
destacar, para lá de uma boa fotografia, a cargo de Danny Cohen. Hooper
parece ter ambicionado tornar Os Miseráveis num grandioso espectáculo
e descurou tantos aspectos verdadeiramente importantes para o conseguir.
Argumentativamente, poucas histórias estão bem desenvolvidas, carecem de
explicações, de profundidade, de envolvimento.
Os Miseráveis de Tom Hooper é fraco, ficando muito aquém do esperado. Há momentos intensos, mas quase todos nos são presenteados pela estrela que dá algum brilho à longa-metragem: a Fantine de Anne Hathaway.
4 comentários:
Isto é que foi dar pelo tempo a (não) passar... :)
Desde o início deste OS MISERÁVEIS que percebi o quanto não ia apreciar o filme. Musicais nunca fizeram parte dos meus principais gostos em Cinema, e Tom Hooper não me alterará essa postura perante o género.
Cumps cinéfilos :*
Foi complicado, foi. :)
Obrigada pelo comentário, Sam.
Cumprimentos cinéfilos :*
Achei o filme excelente. Hooper soube conduzir muito bem...
Abraços...
Não considero que Tom Hooper tenha feito tão mau filme. Merece mais que um 6. A caracterização e o desempenho dos actores são algo a destacar assim como a peça de Victor Hugo ser um guião que proporciona momentos dignos de bom musical na tela. Menos mal dizer e um pouco mais de sentido emotivo ;)
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