"Everybody loses the thing that made them. It's even how it's supposed to be in nature. The brave men stay and watch it happen, they don't run."Hushpuppy
*8/10*
Uma grande surpresa, Bestas do Sul Selvagem é todo ele harmonia entre uma realidade dura e a fantasia que paira na mente de uma criança muito pouco comum. Na sua primeira longa-metragem, Benh Zeitlin alcançou quatro nomeações ao Oscar, todas elas em categorias relevantes: Melhor Filme, Melhor Realizador, Melhor Actriz e Melhor Argumento Adaptado.
Bestas do Sul Selvagem apresenta-nos uma comunidade esquecida - a Banheira - de uma zona pantanosa separada do mundo civilizado por um extenso dique, onde a pequena Hushpuppy, de seis anos, vive entregue à sua sorte, com o seu pai, Wink, um homem descontrolado e doente. Quando uma tempestade faz subir as águas em torno da aldeia e ferozes criaturas pré-históricas acordam dos seus túmulos gelados para investir através do planeta, Hushpuppy vê entrar em colapso a ordem natural de tudo o que lhe é querido.
Um argumento com tanto de doce como de selvagem, oferece-nos a história de Hushpuppy repleta de reflexões, com um guião cheio de frases marcantes, e em que a protagonista, que assume também o papel de narradora, é o fio condutor de toda a narrativa, onde a crítica social está bem presente. Envolvente, Bestas do Sul Selvagem leva-nos até à Banheira, esta uma pequena comunidade esquecida, apesar de se situar junto ao mundo civilizado. Quando, depois da tempestade, tentam incutir alguma sociabilidade àquelas pessoas, elas resistem e mostram querer lutar por aquilo que é seu e de que os querem privar. Apesar das precárias condições, Hushpuppy e os seus mostram preferir a sua terra a tudo o resto, com verdadeiro respeito pela Natureza que assume um papel principal ao longo de toda a longa-metragem.
Hushpuppy é o melhor exemplo dessa luta, desse respeito pela sua "casa", pela sua gente, e é ela que faz o filme. Corajosa e aventureira, a pequena protagonista aparenta não ter medo de nada, mesmo nos momentos em que parece fraquejar. Desafiadora, ela recebe uma educação pouco convencional, e provavelmente incómoda para o espectador, que parece querer prepará-la para tudo, à semelhança de um animal selvagem. Todavia, em nenhum momento ela perde a forte imaginação que só a mente de uma criança oferece.
Ao mesmo tempo, nunca a expressão "Mãe Natureza" foi tão certeira. Hushpuppy trata-a como se da sua progenitora ausente se tratasse, e quase que conseguimos acreditar nisso. A relação entre ambas é de tal forma especial, que nem a Tempestade a é capaz de abalar, apenas a torna ainda mais forte. Ao mesmo tempo, a mãe da criança é-nos apresentada como uma mulher fora do comum, num estatuto próximo ao de uma divindade, como uma força da Natureza. Hushpuppy recorda-a, a certo momento, assim: "Back when Daddy used to talk about Mamma, he'd say she was so pretty she never even had to turn on the stove.". O filme é feito de subtilezas como esta, do início ao fim. Conseguiremos fazer uma série de associações, de reflexões, ao longo da longa-metragem.
Para uma protagonista tão exigente, ninguém melhor do que a pequena estreante Quvenzhané Wallis para lhe vestir a pele, numa interpretação que a tornou a mais jovem nomeada de sempre ao Oscar de Melhor Actriz. Wallis é brilhante, em todas as expressões, em todas as deixas. A acompanhá-la, Dwight Henry encarna o seu pai, Wink, de forma enérgica e muito competente, sendo uma pena terem-no deixado de fora das nomeações aos prémios da Academia.
Tecnicamente, Bestas do Sul Selvagem é extremamente interessante e sensorial. Filmado em película de 16mm, o filme deixa-nos ver o seu grão na imagem. Ao mesmo tempo, a Natureza é-nos mostrada com detalhe, apelando aos nossos sentidos. A câmara nunca é estática, mas o que poderia ser incómodo, pelo contrário, só nos coloca ainda mais na acção, quase como se também fôssemos habitantes da Banheira. A banda sonora, composta por Dan Romer e pelo próprio realizador Benh Zeitlin, é encantadora, reforçando toda a harmonia que a longa-metragem nos transmite.
Um drama fascinante a cada fotograma, é assim Bestas do Sul Selvagem, para ver, sentir e reflectir. Hushpuppy faz-nos viajar entre a fantasia e a realidade, conhecendo e confrontando as mais temíveis criaturas, sejam elas fruto da nossa imaginação, os nossos medos ou a própria Natureza.
Um argumento com tanto de doce como de selvagem, oferece-nos a história de Hushpuppy repleta de reflexões, com um guião cheio de frases marcantes, e em que a protagonista, que assume também o papel de narradora, é o fio condutor de toda a narrativa, onde a crítica social está bem presente. Envolvente, Bestas do Sul Selvagem leva-nos até à Banheira, esta uma pequena comunidade esquecida, apesar de se situar junto ao mundo civilizado. Quando, depois da tempestade, tentam incutir alguma sociabilidade àquelas pessoas, elas resistem e mostram querer lutar por aquilo que é seu e de que os querem privar. Apesar das precárias condições, Hushpuppy e os seus mostram preferir a sua terra a tudo o resto, com verdadeiro respeito pela Natureza que assume um papel principal ao longo de toda a longa-metragem.
Hushpuppy é o melhor exemplo dessa luta, desse respeito pela sua "casa", pela sua gente, e é ela que faz o filme. Corajosa e aventureira, a pequena protagonista aparenta não ter medo de nada, mesmo nos momentos em que parece fraquejar. Desafiadora, ela recebe uma educação pouco convencional, e provavelmente incómoda para o espectador, que parece querer prepará-la para tudo, à semelhança de um animal selvagem. Todavia, em nenhum momento ela perde a forte imaginação que só a mente de uma criança oferece.
Ao mesmo tempo, nunca a expressão "Mãe Natureza" foi tão certeira. Hushpuppy trata-a como se da sua progenitora ausente se tratasse, e quase que conseguimos acreditar nisso. A relação entre ambas é de tal forma especial, que nem a Tempestade a é capaz de abalar, apenas a torna ainda mais forte. Ao mesmo tempo, a mãe da criança é-nos apresentada como uma mulher fora do comum, num estatuto próximo ao de uma divindade, como uma força da Natureza. Hushpuppy recorda-a, a certo momento, assim: "Back when Daddy used to talk about Mamma, he'd say she was so pretty she never even had to turn on the stove.". O filme é feito de subtilezas como esta, do início ao fim. Conseguiremos fazer uma série de associações, de reflexões, ao longo da longa-metragem.
Para uma protagonista tão exigente, ninguém melhor do que a pequena estreante Quvenzhané Wallis para lhe vestir a pele, numa interpretação que a tornou a mais jovem nomeada de sempre ao Oscar de Melhor Actriz. Wallis é brilhante, em todas as expressões, em todas as deixas. A acompanhá-la, Dwight Henry encarna o seu pai, Wink, de forma enérgica e muito competente, sendo uma pena terem-no deixado de fora das nomeações aos prémios da Academia.
Tecnicamente, Bestas do Sul Selvagem é extremamente interessante e sensorial. Filmado em película de 16mm, o filme deixa-nos ver o seu grão na imagem. Ao mesmo tempo, a Natureza é-nos mostrada com detalhe, apelando aos nossos sentidos. A câmara nunca é estática, mas o que poderia ser incómodo, pelo contrário, só nos coloca ainda mais na acção, quase como se também fôssemos habitantes da Banheira. A banda sonora, composta por Dan Romer e pelo próprio realizador Benh Zeitlin, é encantadora, reforçando toda a harmonia que a longa-metragem nos transmite.
Um drama fascinante a cada fotograma, é assim Bestas do Sul Selvagem, para ver, sentir e reflectir. Hushpuppy faz-nos viajar entre a fantasia e a realidade, conhecendo e confrontando as mais temíveis criaturas, sejam elas fruto da nossa imaginação, os nossos medos ou a própria Natureza.
3 comentários:
«A câmara nunca é estática, mas o que poderia ser incómodo, pelo contrário, só nos coloca ainda mais na acção, quase como se também fôssemos habitantes da Banheira. A banda sonora, composta por Dan Romer e pelo próprio realizador Benh Zeitlin, é encantadora, reforçando toda a harmonia que a longa-metragem nos transmite.» - bem verdade, aliás, a conjugação som-imagem foi do que mais gostei no filme. Nesse aspecto - e em tantos outros - o prólogo é particularmente brilhante.
Cumprimentos cinéfilos :)
É de facto um grande filme e uma bela surpresa nesta edição dos prémios. As quatro nomeações são mais do que merecidas. Uma realização mais do que competente, uma protagonista acima da média, uma banda-sonora fantástica e uma direcção de fotografia muito boa. E o argumento vai muito mais além do que pode aparentar à "superfície".
Cumprimentos,
Rafael Santos
Memento mori
António e Rafael, obrigada aos dois pelos comentários.
Bestas do Sul Selvagem é verdadeiramente deslumbrante a todos os níveis. Som, imagem, personagens e argumento, tudo se conjuga na perfeição.
Cumprimentos cinéfilos.
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