sexta-feira, 20 de setembro de 2013

MOTELx'13: A Promessa (1973)

*9/10*

No último dia do MOTELx'13, teve lugar a segunda e última sessão da secção Quarto Perdido, com a projecção de A Promessa, outro dos Censurados este ano homenageados, adaptado da obra de Bernardo Santareno. Presente esteve parte da equipa por detrás do filme, em 1973, entre eles o realizador António de Macedo e os protagonistas Guida Maria e Sinde Filipe.

Numa aldeia de pescadores, José e Maria, casados há um ano, fizeram uma promessa antes do casamento: não consumariam a sua união, em cumprimento de um voto de castidade. Contudo, os jovens esposos vivem num estado de tensão permanente, alimentada pela presença de Labareda, um cigano ferido e recolhido pelo casal.

A Promessa revelou-se um fabuloso filme do Cinema Novo Português, onde a crítica ao comportamento do clero e à forma de encarar a religião estão no centro da trama. A "afronta" ao regime do Estado Novo prolongava-se na nudez que António de Macedo não teve medo de filmar, enfrentando a censura que a quis proibir, bem como ao conteúdo anticlerical.


Todo o ambiente mistura religião e crença pagã, trazida pelos ciganos enganadores, que vêm destabilizar a aldeia piscatória onde chegam com um irmão - Labareda - ferido. A Promessa proporciona-nos grandes momentos de cinema e crítica social, com destaque para a conversa entre padres - um jovem e outro mais velho -, cujos diálogos nos prendem ao ecrã como poucos conseguem, ou mesmo o poderoso e envolvente final.

Nas interpretações, Guida Maria, então com pouco mais de 20 anos, mostra talento desde cedo, e coragem em mostrar o corpo numa época com mentalidades muito diferentes da actual. Ao mesmo tempo, Sinde Filipe veste bem a pele de um cigano justiceiro.

A Promessa foi seleccionado para a Competição Oficial do Festival de Cannes, em 1973, e revelou-se um sucesso de bilheteira, numa espécie de western à portuguesa passado numa aldeia de pescadores.

2 comentários:

O Narrador Subjectivo disse...

Este filme num grande ecrã deve valer a pena ;) Tocas em todos os pontos mais importantes deste grande filme.

Inês Moreira Santos disse...

Obrigada, David. :) Gostei mesmo muito.