MAGNOLIA FIELDS
Uma amiga mantém há anos as duas palavras do título desta croniqueta como essência do seu endereço electrónico. Só agora, perante o desafio lançado, me dou conta da probabilidade disto ter algo a ver com o filme que vimos juntos (terceiro visionamento para mim, no espaço duma semana; estreia para ela). Sim, Magnolia, escrito e realizado por Paul Thomas Anderson, é o filme da minha vida – se me apontarem uma pistola à cabeça e tiver mesmo de responder.
Não são os 10/12 minutos mais carismáticos da carreira de Tom Cruise (embora também); não é o miúdo abusado psicologicamente pelo pai que urina pernas abaixo em pleno concurso televisivo (contudo também); não é o William H. Macy vencido da vida, o monólogo de Julianne Moore na farmácia, um contido Philip Seymour Hoffman, esse fenómeno chamado John C. Reilly (e sua relação espectral com Melora Walters) – capaz do mesmo brilhantismo nos dois extremos do espectro, do mais profundo drama à mais desbragada comédia (todavia também); nem sequer a história em altmaniano mosaico nem a ideia subjacente sobre a magia inesperadamente lógica das alegadas coincidências (embora sejam alma e coração desta película de 3 horas).
Acho que o pormaior decisivo foi o que significou para mim este filme naquela idade e naquele momento da vida, nas precisas circunstâncias em que o escriba se encontrava (analogia: quando, com um dos meus maiores amigos, saímos de Fight Club a pontapear caixotes do lixo e sinais de trânsito rua fora).
Tal como os livros ou os quadros nos fazem sentir. Não é à toa que muitos autores, depois da obra exposta ao mundo, afirmam deixar de sentirem-se seus donos, proclamam ser esse filho artístico de todos agora. Porque a arte depende da interpretação dela feita. E saberão os trintões - e daí em diante - que porventura lerem este texto que a maior parte das obras que nos enformam atingem-nos sobretudo num período particular da vida, quando as costuras da personalidade total ainda precisam duns retoques do alfaiate.
Querem saber mais? Ponham-me num divã. Ou, como poderia dizer o “outro”: Respect the writer and tame the curiosity.
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O açoriano Luís Filipe Borges é humorista, guionista e apresentador de televisão. Actualmente - e já desde 2009 - podemos vê-lo na RTP1 a apresentar o programa 5 para a Meia-Noite.
Agradeço ao Luís ter aceite o meu desafio.
Agradeço ao Luís ter aceite o meu desafio.
3 comentários:
Este blog está em grande, Luís Filipe Borges a escrever no Hoje vi(vi) um Filme, muito bem! :D
Boa escolha também, e bem explorada.
Olá David. :) Sem dúvida é um filme incontornável e um dos meus favoritos também.
Fico satisfeita que tenhas gostado.
Cumprimentos cinéfilos.
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