sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

O Filme da Minha Vida, por Luís Filipe Borges

MAGNOLIA FIELDS

por Luís Filipe Borges



Uma amiga mantém há anos as duas palavras do título desta croniqueta como essência do seu endereço electrónico. Só agora, perante o desafio lançado, me dou conta da probabilidade disto ter algo a ver com o filme que vimos juntos (terceiro visionamento para mim, no espaço duma semana; estreia para ela). Sim, Magnolia, escrito e realizado por Paul Thomas Anderson, é o filme da minha vida – se me apontarem uma pistola à cabeça e tiver mesmo de responder.

Não são os 10/12 minutos mais carismáticos da carreira de Tom Cruise (embora também); não é o miúdo abusado psicologicamente pelo pai que urina pernas abaixo em pleno concurso televisivo (contudo também); não é o William H. Macy vencido da vida, o monólogo de Julianne Moore na farmácia, um contido Philip Seymour Hoffman, esse fenómeno chamado John C. Reilly (e sua relação espectral com Melora Walters) – capaz do mesmo brilhantismo nos dois extremos do espectro, do mais profundo drama à mais desbragada comédia (todavia também); nem sequer a história em altmaniano mosaico nem a ideia subjacente sobre a magia inesperadamente lógica das alegadas coincidências (embora sejam alma e coração desta película de 3 horas).

Acho que o pormaior decisivo foi o que significou para mim este filme naquela idade e naquele momento da vida, nas precisas circunstâncias em que o escriba se encontrava (analogia: quando, com um dos meus maiores amigos, saímos de Fight Club a pontapear caixotes do lixo e sinais de trânsito rua fora). 

Tal como os livros ou os quadros nos fazem sentir. Não é à toa que muitos autores, depois da obra exposta ao mundo, afirmam deixar de sentirem-se seus donos, proclamam ser esse filho artístico de todos agora. Porque a arte depende da interpretação dela feita. E saberão os trintões - e daí em diante - que porventura lerem este texto que a maior parte das obras que nos enformam atingem-nos sobretudo num período particular da vida, quando as costuras da personalidade total ainda precisam duns retoques do alfaiate. 

Querem saber mais? Ponham-me num divã. Ou, como poderia dizer o “outro”: Respect the writer and tame the curiosity.

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O açoriano Luís Filipe Borges é humorista, guionista e apresentador de televisão. Actualmente - e já desde 2009 - podemos vê-lo na RTP1 a apresentar o programa 5 para a Meia-Noite.

Agradeço ao Luís ter aceite o meu desafio.

3 comentários:

O Narrador Subjectivo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
O Narrador Subjectivo disse...

Este blog está em grande, Luís Filipe Borges a escrever no Hoje vi(vi) um Filme, muito bem! :D

Boa escolha também, e bem explorada.

Inês Moreira Santos disse...

Olá David. :) Sem dúvida é um filme incontornável e um dos meus favoritos também.

Fico satisfeita que tenhas gostado.

Cumprimentos cinéfilos.