terça-feira, 28 de outubro de 2014

Doclisboa'14: Volta à Terra (2014)

*7/10*

João Pedro Plácido apresentou a sua primeira longa-metragem, Volta à Terra, no Doclisboa'14, e saiu duplamente vencedor. O filme conquistou o Prémio Liscont e o Prémio IADE para Melhor Longa-metragem da Competição Portuguesa.

O realizador leva-nos até Uz, uma povoação isolada nas montanhas do norte de Portugal, mais propriamente no distrito de Braga, onde vivem cerca de 50 pessoas, de quatro gerações diferentes. Podiam ter emigrado, como muitos nortenhos, mas escolheram ficar e continuar o seu modo de vida ancestral, longe do rebuliço da modernidade.


Para um primeiro trabalho, Volta à Terra é uma obra competente, abordando uma temática muito portuguesa e mostrando como a vida no campo ainda existe, entre a agricultura e a pecuária. A solidariedade entre os vizinhos e a religiosidade estão bem vincadas, e as festas populares ganham sempre uma importância especial ao encherem a aldeia. Em Uz, vemos velhos e novos a trabalhar na terra e no pastoreio, entre conversas mais ou menos críticas sobre o estado do país.

Das personagens da longa-metragem, conhecemos António, um antigo emigrante que realizou o sonho de regressar ao país, e que prepara a festa da aldeia para o Verão que aí vem em conjunto com os outros populares. Por outro lado, a nossa atenção vai centrar-se especialmente em Daniel, um jovem com cerca de 20 anos que trabalha no campo, como tantos outros naquela povoação, e é ali que gosta de estar - vamos percebendo que dificilmente ele trocaria Uz por outro local. Seguimo-lo entre conversas com os colegas, com o afilhado bebé que insiste em falar francês, e, claro, no momento alto do filme, em que reencontra Daniela, uma jovem colega de escola que se torna seu par no baile da terra e com quem dança ao som de A Bela Portuguesa - momento que invoca por breves instantes os amores de Verão de Aquele Querido Mês de Agosto, de Miguel Gomes.

Infelizmente, as festas duram pouco, e Volta à Terra concentra-se especialmente no trabalho do campo e nos seus protagonistas. Acima de tudo, um bonito retrato da ruralidade ao longo do ano, com um bom trabalho de fotografia que potencia as paisagens.

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