Tempo agora para analisar a Competição Nacional de Curtas-metragens do IndieLisboa'15 a que assistimos na íntegra. Dos 16 filmes seleccionados, começamos por abordar os oito que compõem as primeira e segunda sessões.
Para lá do Marão - 6.5/10
José Manuel Fernandes trouxe ao IndieLisboa'15 a curta-metragem documental Para Lá do Marão. Ali, o realizador apresenta-nos uma população em extinção e uma terra, longe da vista, ameaçada pelo seu próprio desaparecimento.
Um trabalho simples e quase "fantasmagórico", que nos coloca perante uma aldeia-fantasma, onde observamos as casas típicas, os rebanhos e os cães que os acompanham, mas onde é quase raro o vislumbre de humanos. O nevoeiro, o som do vento e dos animais sobrepõe-se ao da população que mal vemos ou ouvimos. Um filme com um ambiente muito característico e que nos traz um retrato destas aldeias esquecidas.
Um trabalho simples e quase "fantasmagórico", que nos coloca perante uma aldeia-fantasma, onde observamos as casas típicas, os rebanhos e os cães que os acompanham, mas onde é quase raro o vislumbre de humanos. O nevoeiro, o som do vento e dos animais sobrepõe-se ao da população que mal vemos ou ouvimos. Um filme com um ambiente muito característico e que nos traz um retrato destas aldeias esquecidas.
Iec Long - 8/10
O percurso de João Pedro Rodrigues e João Nuno Guerra da Mata por Macau continua em Iec Long, onde, através do cinema, recuperam memórias de uma fábrica de fogo de artifício agora abandonada. O passado e o presente cruzam-se nesta curta-metragem que alterna entre a cor, música e ambiente de festa, com a prevalência do fogo de artifício no início, e as ruínas da fábrica protagonista deste filme.
Iec Long abriu em 1923 e encerrou nos anos 70. Produzia exactamente fogos de artifício (ou panchões). As imagens evocam a memória de outros tempos, e é o nosso guia, Teng Man Cheang - de 79 anos, que começou a trabalhar na Iec Long aos oito -, que nos conta a história do local, ele que se assume como o guardador daquelas ruínas. Entre as imagens a preto e branco que recordam as fantasmagóricas crianças que ali trabalharam, as fotografias da época ou as figuras em miniatura a representar o trabalho da fábrica, cria-se um passado e um presente potenciado pelo óptimo trabalho de montagem das imagens e do som.
Iec Long abriu em 1923 e encerrou nos anos 70. Produzia exactamente fogos de artifício (ou panchões). As imagens evocam a memória de outros tempos, e é o nosso guia, Teng Man Cheang - de 79 anos, que começou a trabalhar na Iec Long aos oito -, que nos conta a história do local, ele que se assume como o guardador daquelas ruínas. Entre as imagens a preto e branco que recordam as fantasmagóricas crianças que ali trabalharam, as fotografias da época ou as figuras em miniatura a representar o trabalho da fábrica, cria-se um passado e um presente potenciado pelo óptimo trabalho de montagem das imagens e do som.
Outubro Acabou - 6.5/10
Mãe, pai e filho são os protagonistas de Outubro Acabou, onde Karen Akerman e Miguel Seabra Lopes redescobrem as origens do cinema pelas mãos de uma criança. Não faltam referências aos consagrados Godard ou Eisenstein, e o nosso herói é um realizador em ponto pequeno, uma criança obcecada pelas imagens e pela película.
A banda sonora forte acompanha as aventuras de pais - quais produtores - e filho - o realizador -, na busca pelo seu filme perfeito, entre birras, indecisões e algum humor. Outubro Acabou é algo ingénuo na concretização mas constrói-se a partir de uma ideia muito interessante.
A banda sonora forte acompanha as aventuras de pais - quais produtores - e filho - o realizador -, na busca pelo seu filme perfeito, entre birras, indecisões e algum humor. Outubro Acabou é algo ingénuo na concretização mas constrói-se a partir de uma ideia muito interessante.
Aula de Condução - 4.5/10
Um ambiente misterioso e sensual paira sobre Aula de Condução, de André Santos e Marco Leão. Enquanto um jovem treina para o seu exame de condução, a mulher com quem está envolvido passeia a sua cadela.
Entre dúvidas e desejos, Aula de Condução promete mais do que nos oferece e deixa no ar algumas dúvidas. Ainda assim, o filme proporciona-nos planos interessantes numa paisagem isolada e campestre.
Lei da Gravidade - 8/10
Uma boa surpresa na Competição Nacional de Curtas é Lei da Gravidade, de Tiago Rosa-Rosso - realizador com dois filmes seleccionados para o IndieLisboa'15. O filme encena uma ficção beckettiana, onde o absurdo toma conta de duas personagens à espera que o seu filme aconteça.
Lei da Gravidade brinca consigo mesmo - um filme português - e ironiza com os preconceitos a que muitas vezes se associa o nosso cinema. Através de bons diálogos, debate-se sobre o cinema nacional, utilizam-se referências Godard ou a D.W. Griffith e não falta uma miúda e uma pistola.
Lei da Gravidade brinca consigo mesmo - um filme português - e ironiza com os preconceitos a que muitas vezes se associa o nosso cinema. Através de bons diálogos, debate-se sobre o cinema nacional, utilizam-se referências Godard ou a D.W. Griffith e não falta uma miúda e uma pistola.
O Rebocador - 8.5/10
Jorge Cramez trouxe-nos O Rebocador, provavelmente o melhor filme da Competição Nacional de Curtas, pelo menos para o Hoje Vi(vi) um Filme. Qual campanha de prevenção rodoviária, esta curta-metragem introduz-nos na noite com quem trabalha nela, um rebocador, que percorre as estradas, de acidente em acidente, para proceder ao reboque dos veículos envolvidos e levá-los para a sucata. Este homem relata-nos a sua rotina de trabalho, o seu testemunho triste e dramático, onde as palavras são uma espécie de imagens faladas, fortes e intensas.
Tal como o acidentado que acompanha o rebocador, ouvimos as suas histórias e temos medo, ficamos sensibilizados e atormentados. O Rebocador tem uma magia muito própria e um monólogo fantástico, potenciado pela excelente interpretação de Adriano Luz.
Tal como o acidentado que acompanha o rebocador, ouvimos as suas histórias e temos medo, ficamos sensibilizados e atormentados. O Rebocador tem uma magia muito própria e um monólogo fantástico, potenciado pela excelente interpretação de Adriano Luz.
A Trama e o Círculo - 7/10
Ao longo de vários meses, Mariana Caló e Francisco Queimadela recolheram testemunhos de diversas práticas relacionadas com o lavor, o ludismo e outras actividades quotidianas assentes no conhecimento empírico. Estabelecendo relações intuitivas entre gestos concretos e substâncias, experiências sensoriais e o pensamento analógico, os autores procuraram criar um filme fragmentário imerso na ideia de transformação da matéria, gerando um movimento concêntrico que se metamorfoseia ao longo do trabalho.
A Trama e o Círculo, de Francisco Queimadela e Mariana Caló, cria a sua própria experiência sensorial por um jogo de montagem sobre o trabalho manual e a sua história empírica. Esta curta-metragem experimental revela-se um exercício competente e dinâmico entre figuras geométricas, trabalhos manuais e artesanais, sombras ou movimentos intuitivos, entre o passado e o presente.
Cinzas e Brasas - 7.5/10
Com Cinzas e Brasas, Manuel Mozos entra pelo campo da literatura para filmar uma casa de escrita e memórias, onde Isabel Ruth é Dulce Maria Cardoso. As cinzas surgem cedo neste filme, com a ideia da morte e da ausência a pairar. 43 anos depois, Dulce tem uma visita inesperada, alguém que amou e o grande responsável pelo seu sucesso literário. O início, repleto de muita cor, dá lugar à noite escura com a chegada deste visitante, apenas iluminada pela lamparina.
Sempre num limbo entre o real e o imaginário, entre a lembrança do passado e o presente, Cinzas e Brasas tem em si uma aura especial, e com um final aberto a diversas interpretações. O trabalho da direcção de fotografia é outro ponto forte desta curta-metragem.
Sempre num limbo entre o real e o imaginário, entre a lembrança do passado e o presente, Cinzas e Brasas tem em si uma aura especial, e com um final aberto a diversas interpretações. O trabalho da direcção de fotografia é outro ponto forte desta curta-metragem.
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