segunda-feira, 7 de maio de 2018

IndieLisboa'18: Lupo (2018)

*9/10*


Era uma vez, um homem que marcou a História do Cinema europeu e, de repente, desapareceu... Eis o mote perfeito para levar curiosos a ceder à tentação de resolver o mistério. Lupo é todo o registo de um trabalho de investigação abismal, com descobertas fundamentais para reescrever a História do Cinema nacional e europeu. Pedro Lino e a sua equipa, quais detectives particulares, correm a Europa em busca de todas as pistas possíveis que levem à resolução do caso. 

Apresento-o quase como um filme de detectives, mas, em Lupo, Lino é a personificação de Sherlock Holmes e a investigação é real. O realizador faz tudo como lhe compete e sabe trabalhar o material que recolheu da melhor forma possível. Não dá para ficar indiferente.

O italiano Rino Lupo andou por toda a Europa a trabalhar em cinema. Eram os anos 10 e 20 e Rino teve três pseudónimos e constituiu duas famílias. Mas foi em Portugal que assentou por mais tempo, realizando alguns dos filmes mudos mais importantes do nosso cinema. Bénard da Costa chamava às Mulheres da Beira “a primeira obra maior do cinema português”. Pedro Lino desenvolveu em Lupo uma profunda investigação sobre o realizador (descobrindo um dos mistérios que o rondavam, o ano e local da sua morte), procurando seguir os passos fugidios de um homem “maior que a vida”.


Lupo transmite toda a emoção que foi rodar este filme. Na apresentação do documentário, na Cinemateca Portuguesa, era notória a comoção de Pedro Lino e da produtora Pandora da Cunha Telles.

O tom coloquial primeiro estranha-se e depois adora-se. O narrador fala directamente para Lupo que o ouve, algures entre as ruínas do antigo cinema Odéon, em Lisboa, numa espécie de atmosfera assombrada. E assim se constrói também uma analogia entre o desaparecimento de Lupo e o desaparecimento e abandono dos antigos cinemas portugueses.

Um mapa improvisado leva-nos numa viagem pela Europa, onde seguimos o rasto do cineasta italiano. Por diversas vezes, uma sobreposição de imagens mostra-nos os espaços como são actualmente e como eram quando Lupo lá passou. Ao mesmo tempo, assistimos, encantados, a fragmentos ou fotografias de filmes do cineasta (Mulheres da Beira, Os Lobos, Fátima Milagrosa, O Diabo em Lisboa ou José do Telhado, por exemplo), tudo acompanhado por confidência do cineasta e curiosos momentos com os seus descendentes.


Lupo, de Pedro Lino, foi, muito provavelmente, um dos melhores filmes exibidos nesta edição do IndieLisboa. O filme documenta e faz História.

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