domingo, 24 de junho de 2018

Opinião - Séries: 1986 (2018)

*8/10*

Eva Fisahn, Miguel Partidário, Miguel Moura e Silva, Laura Dutra e Henrique Gil

Acabou há menos de uma semana 1986, a série criada por Nuno Markl, que nos transportou para a melhor década de todas, as suas modas e contextos político e social. Personagens, que fomos nós, ou os nossos amigos e familiares mas que, no fundo, eram todas um bocadinho de Nuno Markl. Após o primeiro episódio (são 13, ao todo), eu disse isso mesmo. São todos Nuno Markl. E, confesso, não fiquei rendida e critiquei um pouco, em especial os clichés das personagens: a gótica, o metaleiro, os betinhos, o totó, o comuna, o fascista retornado, a mulher submissa, a hippie... Ainda o achei inicialmente um pouco elitista, ao falar de filmes e realizadores muito específicos, mas que poderão ficar mais como um convite à descoberta para quem não os conhece...

Há um extremo cuidado com a direcção artística, relembramos os locais, os carros, os objectos - alguns provavelmente raros, certamente desencantados da cave do Markl ou local de culto semelhante -, o cinema Turim (agora teatro) onde também vi tantos filmes... Toda a cultura popular  dos 80's ali nos surge com uma naturalidade e nostalgia que poucas vezes se vê, menos ainda em Portugal.


Não desisti e continuei a ver, e os clichés foram-se dissipando a cada novo episódio, ganhando todos  os personagens muito mais personalidade do que o preconceito a que os submeti ao início - eu que nem gosto de julgar aparências. Desbravou-se um mar de boa música, rádio pirata, ColaCao, filmes que passavam na cinemateca - norte-americanos, russos ou outros que tais -, relembrou-se parte da campanha das presidenciais de 1986, as mágoas dos retornados, a revolta dos que viveram o Estado Novo, a amizade, o amor, as colecções de cromos, as cassetes VHS (que saudades...) e tantas outras memórias, que fazem sorrir.

1986 tem essa qualidade, tão rara hoje em dia: faz-nos rir e sorrir, faz-nos querer ver mais, faz-nos implorar por uma segunda temporada. Vá lá, Markl! Faz isso por mim que quase não vejo séries e vi os 13 episódios da tua que, ainda por cima, é portuguesa - e bem boa!

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