Retratos foi tema de mais uma sessão do Doclisboa'19, da retrospectiva Ascensão e Queda do Muro - O Cinema da Alemanha de Leste. Na Cinemateca Portuguesa a plateia assistiu a Martha, de Jürgen Böttcher, e a Alfred, de Andreas Voigt.
Martha, de Jürgen Böttcher - 8/10
Jürgen Böttcher apresenta-nos Martha, uma mulher de idade avançada mas que ainda está para as curvas. Ela é a última mulher do entulho em Rummelsberg, no meio de muitos colegas homens que a admiram e acarinham. O filme mostra-nos uma verdadeira Rainha da Sucata na RDA.
Nascida em 1910, em Berlim, todos os dias, faça chuva ou faça Sol, Martha está junto ao tapete rolante de uma escavação a fazer a triagem do entulho. Após uma festa de aposentação organizada pelos colegas, conta histórias da sua vida difícil, mas gratificante, na Alemanha do pós-guerra.
É uma mulher aguerrida, cujos olhos já revelam a saudade do trabalho de uma vida. Apesar do trabalho árduo e da vida por vezes complicada, Martha mostra-se feliz junto dos homens que a acompanharam e revela-se uma protagonista interessante e entusiasta.
Ela, que foi uma das mulheres que ajudaram a reconstruir Berlim destruída pela guerra, recorda esses momentos olhando para fotografias da cidade arrasada, em 1945. Um interessante contraponto histórico.
Alfred, de Andreas Voigt - 6.5/10
Mais um retrato de uma personagem com muito para contar na Alemanha de Leste. A construção de Alfred é diferente: mune-se de gravações áudio do protagonista - entretanto falecido -, fotografias, um quadro de Alfred, pintado por Albert Gehse, declarações de amigos, e imagens de Berlim sobre carris.
Alfred foi o filme de final de curso do realizador Andreas Voigt, onde interroga o comunista Alfred Florstedt – que acreditou num socialismo que nunca existiu e cuja vida se entrelaça com a história do século XX – e narra a vida deste homem de 76 anos.
A memória que a curta de Andreas Voigt se propõe a preservar é a de um homem que viveu, na primeira pessoa, momentos fulcrais da História do século XX. Viu acontecer as duas Grandes Guerras, foi expulso do Partido Comunista, juntou-se depois ao Partilho dos Trabalhadores Comunistas, viu a ascensão do nazismo, passou por campos de concentração, mas no meio de tudo isto, encontrou o amor e viveu sempre na esperança de uma vida melhor.
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