"The nights that coincide several pains, those nights I believe in God and I pray to him. The days when I only suffer a type of pain I'm an atheist."
Salvador Mallo
*8/10*
Dor e Glória é um Almodóvar (parcialmente) autobiográfico, que se enfrenta a si e aos seus fantasmas, sem receios e fiel ao seu estilo. Um trabalho reflexivo e íntimo, sem excessos, que traz à tona o grande actor que é Antonio Banderas.
Salvador Mallo (Antonio Banderas) é um realizador de cinema, que se vê obrigado a reflectir sobre as escolhas que fez ao longo da vida quando passado e presente se parecem desmoronar ao seu redor. Entre a doença física e a dor psicológica, Salvador recorda a infância e reencontra os fantasmas do passado.
Eis que Dor e Glória deambula entre tempos distintos, intercalando-os, à medida que reencontros e decisões vão activando memórias. Tudo especialmente bem construído, resultando numa espécie de meta-ficção. Almodóvar é genial, como sempre, a escrever e a filmar, e o facto de criar Salvador à sua imagem, está longe de ser um problema.
No meio do bloqueio criativo de Salvador, a dor que o parece impedir de avançar não é apenas física. Ela pede uma reconciliação com o passado. E Banderas dá tudo de si neste papel, sóbrio e intimo, como poucas vezes o vemos.
Há uma tristeza latente, quase num prenúncio para o que acontecerá a seguir, mas inesperado como gostamos que Almodóvar seja, ele surpreende-nos até ao final.
Apesar da sobriedade - está longe de extravagâncias de outros filmes do realizador, apesar da comédia espreitar, em alguns momentos -, Dor e Glória é todo ele Pedro Almodóvar. Para além do realismo, a direcção artística denúncia o seu autor. Abundam os vermelhos vivos, os padrões alegres, a arte nas paredes, num contraste sempre condizente com a narrativa de opressão ou angústia.
Dor e Glória é um trabalho contido e melancólico. Um elogio ao Cinema e prova da admiração pelos que o tornaram no homem que é. Uma carta de amor às suas inspirações, em jeito de filme.
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