quinta-feira, 7 de novembro de 2019

Crítica: Technoboss (2019)

"São néscios os filhos de Deus, são néscios"
Luís Rovisco



*6.5/10*

João Nicolau regressa com Technoboss, uma comédia espirituosa, com o toque quase mágico que já encontrámos em John From e noutros trabalhos do realizador. Desta vez, os pontos-chave para desfrutar são as canções e o protagonista, Miguel Lobo Antunes.

Luís Rovisco (João Nicolau) é um sexagenário divorciado, que espera em breve cessar as suas funções de director comercial da empresa SegurVale – Sistemas Integrados de Controlo de Circulação. Espera sentado, a maior parte das vezes ao volante e a cantar sobre o que lhe vai passando à frente. De resposta pronta e sorriso fácil, é senhor de uma bagagem que lhe permite escapar de forma sempre airosa às armadilhas que a tecnologia, os colegas e um misterioso patrão ausente parecem semear-lhe pelo caminho. Nem a morte de Napoleão (um gato), nem uma persistente dor no joelho ou um desaguisado familiar o fazem soçobrar: não há mal que uma canção não vença. Mas diante de Lucinda, a recepcionista do Hotel Almadrava, a música é outra.


Luís é um homem que não tem nada a perder. Não mostra receios, nem preocupações de maior. Tem uma postura confiante, é teimoso e solitário - apenas um gato, depois um peixe, lhe fazem companhia em casa. Enquanto espera a reforma, que está para breve, parece, ao mesmo tempo, não se querer retirar. Miguel Lobo Antunes, estreante nestas andanças cinematográficas, revela um inesperado à vontade. É um gosto vê-lo cantar ao volante, dançar, provocar os colegas de trabalho e tentar seduzir Lucinda - mas é perante ela que as certezas (e o joelho) fraquejam. Uma surpreendente performance do menos provável actor.

Entre a desconstrução do Cinema, que vemos em algumas das estradas desenhadas que Luís percorre nas suas viagens de trabalho, João Nicolau presta homenagem à Sétima Arte ao filmar em 16 mm, para que não hajam dúvidas de que estamos mesmo no cinema. A imagem granulada dá gosto de ver e confere-lhe a magia a condizer com os aspectos mais surrealistas da história deste filme.


E eis que surpreendentemente Technoboss é o musical português do momento. Graças aos temas compostos pelos irmãos Pedro da Silva Martins e de Luís Martins - que fazem uma perninha como actores - e Norberto Lobo, será difícil não ficar a trautear as canções interpretadas por Miguel Lobo Antunes. E dele retiramos ainda a alegria e vontade de viver, como se os anos não passassem, num sonho constante, cheio de música.

1 comentário:

Joana Santos disse...

Fiquei com curiosidade de ver este filme, principalmente por ser um musical português e pela imagem granulada. Da próxima vez que for ao cinema vou estar atenta, pois penso que não vi nenhuma "publicidade" deste filme!
Beijinhos!

www.losingmamind.com