sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

Crítica: 1917 (2019)

"There is only one way this war ends. Last man standing."
Coronel MacKenzie


*6.5/10*

Em 1917, Sam Mendes exibe a eficácia da técnica no cinema, utilizando-a para contar uma história que decorre durante a Primeira Guerra Mundial - ainda pouco explorada na Sétima Arte. O épico de guerra contudo não chega para ficar na memória, mas é capaz de colocar o espectador no cenário da acção.

Schofield (George MacKay) e Blake (Dean-Charles Chapman) são dois soldados de quem depende a vida de 1600 homens - entre eles o irmão de Blake -, que caminham para uma armadilha. Os dois jovens estão encarregues de entregar uma mensagem a cancelar um ataque planeado para o dia seguinte, mas a jornada está longe de ser segura e o tempo escasseia.


O argumento é simples e directo, sem grandes reviravoltas ou subtextos. É o que os olhos vêem no ecrã. E o que falta a 1917 é exactamente algo que não é palpável ou visível, mas sente-se. Falta-lhe alma. E apesar de admirar o trabalho do realizador e do grande director de fotografia, Roger Deakins - o trabalho técnico é realmente exímio, tentando, com sucesso, simular um único plano-sequência, sendo que passamos (mais ou menos) oito horas em apenas duas e não nos sentimos enganados -, 1917 não nos toca. Muito visual, pouca essência.

O ritmo inicial deixa-nos um pouco perdidos, numa pressa incessante e até imprudente de Blake em chegar ao destino. Contudo, é também nesses momentos que sentimos a podridão da guerra no seu âmago, algo de que depressa o filme desiste. Ainda assim, é de destacar o fabuloso trabalho de design de produção, numa reconstituição em grande escala de trincheiras e ruínas, qual labirinto armadilhado. 

Nos actores, falta força e personalidade à dupla protagonista. De tão ensaiado e coreografado que 1917 teve de ser, há algo de maquinal na prestação dos actores e poucas emoções. Apesar dessa fraqueza, George MacKay consegue crescer ao longo do filme, revelando algum carisma. Colin Firth, Mark Strong e Benedict Cumberbatch são os "plot twists" do filme ou um "miminho" para quem sentia falta de um nome sonante no elenco.


1917 estará longe de marcar a História dos filmes de guerra. É muito "style over substance", mas não desdenhemos do trabalho de Sam Mendes e Roger Deakins: 1917 é tecnicamente exímio, só não chega para ganhar a batalha.

Sem comentários: