segunda-feira, 15 de junho de 2020

Crítica: Da 5 Bloods: Irmãos de Armas (2020)

"We fought in an immoral war that wasn't ours for rights we didn't have."
Paul


*6/10*

O novo filme Spike Lee, Da 5 Bloods, serve de porta-estandarte do movimento Black Lives Matter no cinema (mesmo que tenha estreado na Netflix) e não poderia ter chegado num momento mais apropriado. Se, por um lado, está longe de ser um inspirado filme do cineasta, é, contudo, uma longa-metragem muito necessária na actualidade. 

Da 5 Bloods é mais um elemento de luta pela justiça e igualdade e uma crítica feroz ao racismo entranhado desde as raízes da História e da sociedade norte-americana - e Lee esforça-se por dar vários exemplo ao longo do filme.


Acompanhamos um grupo de antigos soldados da guerra do Vietname no regresso à selva, mais de 40 anos depois, em busca dos restos mortais do chefe de esquadrão e de uma fortuna em ouro que ele os ajudou a esconder.

A jornada é longa e perturbadora, mas duas horas e 35 minutos são demasiado, demonstram as fraquezas do argumento e denunciam as dificuldades do realizador acerca do tom a adoptar e que caminhos a seguir. O humor, por vezes, é constrangedor, parece querer alertar para questões graves, sem se levar demasiado a sério. O problema é que não há subtileza nos momentos de comédia, ridicularizando um pouco a causa que quer defender. Sente-se que Lee tem boas intenções mas que está perdido na selva vietnamita, pisando, de quando em quando, minas esquecidas há mais de quatro décadas. E, em tantos acontecimentos inesperados e intervenientes intermináveis, o enredo caminha para muitos momentos previsíveis, que tiram força ao todo.


Nada a apontar ao excelente trabalho dos seis actores principais: Delroy Lindo, Clarke Peters, Jonathan Majors, Norm Lewis, Isiah Whitlock Jr.Chadwick Boseman - com especial destaque para os dois primeiros, com personagens com grande profundidade psicológica e convicções fortes (mesmo com as brincadeiras sobre um afro-americano votar em Donald Trump). A arrojada opção de serem os mesmos actores a interpretarem-se 40 anos mais novos é uma das marcas fortes de Da 5 Bloods. Os quatro homens recordam-se idosos a combater lado a lado com o falecido colega e mentor, interpretado pelo jovem Boseman, imortalizado na selva vietnamita, mostrando como o tempo passou para todos, menos para o colega de quem procuram agora incessantemente os restos mortais.

Visualmente, Da 5 Bloods soma pontos fortes, da direcção de fotografia, ao trabalho de som, numa realização que denuncia o seu autor. A par disto, os aspectos ratio e o formato do filme variam consoante a época que o filme nos relata: 2.39, no tempo presente na cidade, passando para 16:9, quando os protagonistas entram na selva; 16mm em 1.33:1, nos flashbacks na guerra do Vietname; e novamente 2.39, mas em Super8, nas sequências filmadas pelos próprios na sua câmara, a bordo do barco.


Spike Lee pode não ter em Da 5 Bloods o seu trabalho mais inspirado, todavia fez um filme alerta, crítico e especialmente pertinente num mundo em lutas constantes e com tantos ódios a espreitar. Porque, como o próprio filme nos diz, no Vietname, estes soldados lutaram numa guerra que não era deles, por direitos que não tinham. Há que vencer a verdadeira batalha que dura há tantos séculos e este é mais um contributo do realizador.

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