quarta-feira, 29 de julho de 2020

Crítica: O Que Arde (2019)

*7.5/10*


Em O Que Arde, Oliver Laxe filma os incêndios na Galiza, que tanto se assemelham à realidade que assola também o território português todos os Verões. O protagonista é um pirómano, de regresso à sua aldeia isolada no meio da natureza, num filme composto, essencialmente, por actores amadores.

Amador Coro é um homem condenado por ter provocado um incêndio. Quando sai da prisão, regressa à sua aldeia, aninhada nas montanhas da Galiza, onde vive a mãe, Benedicta, e as suas três vacas. A vida decorre lentamente, ao ritmo tranquilo da natureza. Até ao dia em que um fogo vem devastar a região.


No meio de uma história simples, o realizador pretende abordar a figura do incendiário e a forma como a sociedade pode ostracizar alguém. A plateia poderá reflectir, já que nem tudo precisa ser dito, mas é nas imagens que se encontram as verdadeiras virtudes de O Que Arde.

Fugindo, por vezes, quase para o documental, o filme mostra-nos uma realidade tão presente nos noticiários todos os Verões, transportando-a para a Sétima Arte. O fogo e o seu combate são filmados com uma incrível proximidade, como nunca se vira no cinema. E o incêndio que ali vemos é real.

Ao mesmo tempo, a opção de Laxe em filmar quase a totalidade de O Que Arde em película de 16mm tornou o ambiente mais misterioso, sombrio, íntimo e muito mais cinematográfico. O trabalho da direcção de fotografia tem um papel fundamental na experiência de visualização. 


As cores quentes das enormes chamas dos incêndio contrastam em vivacidade com o rasto cinzento da floresta queimada. E com esse reincidir do Passado, também os ressentimentos, desconfianças e acusações se aprofundam.

O Homem e a Natureza são capazes de se regenerar, é certo, mas as cicatrizes ficam - na memória e na paisagem.

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