*6/10*
Com a estreia de A Morte de Luís XIV, de Albert Serra, a Galeria de Arte Graça Brandão recebeu Roi Soleil, em 2017, uma exposição/performance que retratava os últimos momentos de agonia do monarca francês, pelo actor Lluís Serrat. O resultado dessa experiência está neste filme.
Diante dos visitantes de uma galeria de arte, um actor representa a lenta agonia do monarca francês Luís XIV até à sua morte, num desafio físico e psicológico de enorme complexidade. Roi Soleil é uma reflexão sobre o significado visual do rosto do actor, além do profundo mistério por detrás de todas as representações genuínas. As três dimensões essenciais do seu corpo moribundo, a pessoa, o actor (a pessoa vaidosa que tem consciência de estar a ser filmada) e a personagem, são questionadas e entrelaçadas com sensualidade e inocência.
Esta obra experimental, muito ao estilo do cineasta, mostra-nos o trabalho do actor, a agonia da personagem e a admiração de quem assiste. Verão o actor talentoso ou o rei decrépito?
Iluminado por uma luz avermelhada, qual sol poente, Lluís Serrat agoniza, rasteja, geme, mas também come bolinhos e vê-se ao espelho, qual Narciso, sem tirar a peruca ou perder as mordomias e vaidades da realeza, mesmo no leito da morte.
Alguns planos deste Roi Soleil de Albert Serra poderiam mesmo ser quadros expostos nas paredes de um museu. Já perto do final, dá-se a desconstrução e o público revela-se, perante o actor.
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