*7/10*
Após o desaparecimento, ainda tão recente, de Marion Hänsel (a realizadora faleceu em Junho), assistir a There Was a Little Ship toma um significado imenso. O último filme da cineasta e actriz belga é quase uma despedida não-intencional, onde faz uma espécie de retrospectiva da sua vida, durante uma longa estadia no hospital, em 2015.
Em tom confessional, There Was a Little Ship é uma espécie de diário de bordo, onde uma mulher (a própria Hänsel) hospitalizada por um período relativamente longo, observa o que a rodeia. Tem tempo para sonhar, revisitar certos momentos da sua vida. Essas memórias começam com o seu nascimento em 1949, em Marselha, e conduzem-nos a Antuérpia, Inglaterra, Nova Iorque, Paris, terminando na Flandres, em 2015, após ter alta hospitalar.
Neste documentário autobiográfico, quase poético, a realizadora aproveita o internamento, onde o tempo parece infinito, para entrar numa viagem introspectiva às recordações. Uma opção, talvez, para ajudar a passar os dias.
As imagens e rotinas diárias do presente contrapõem-se com as do passado: da infância na praia, à relação muito próxima com o avô e com a irmã mais cúmplice; o circo onde não gostou dos palhaços e a ida ao cinema ver um western com Gary Cooper; as dificuldades na escola aos 15 anos e a sua paixão pela pintura; a escola de artes em Inglaterra; a experiência difícil em Nova Iorque; a vida em Paris; a perda de alguém muito próximo; a relação com o pai, com a mãe e com o filho, entretanto nascido.
There Was a Little Ship é o relato poético e íntimo de uma vida em filme; com imagens de arquivo, intercaladas com novas filmagens, e a narração que nos faz revisitar os locais onde Marion Hänsel passou momentos importantes da sua infância, juventude e idade adulta.
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