sexta-feira, 28 de agosto de 2020

IndieLisboa'20: La Leyenda Negra (2020)

*6.5/10*


La Leyenda Negra é a primeira longa-metragem da realizadora Patrícia Vidal Delgado, que já conta com algumas curtas no currículo, sempre com a multiculturalidade como tema central das suas obras (o seu primeiro filme, Bué Sabi, tem crítica aqui no blog). 

Desta feita, os imigrantes latino-americanos são o foco de La Leyenda Negra, num filme que junta a política actual aos dramas e descobertas da adolescência.

Tudo se passa em Compton. Uma jovem estudante latina, Aleteia (Monica Betancourt) quer prosseguir os seus estudos universitários, mas as decisões políticas põem em risco a sua continuidade, podendo vir a ser deportada. Aleteia decide que terá de lutar pelo seu direito a permanecer nos EUA, arriscando a sua família, amigos e primeiro amor.


Neste drama coming-of-age, as mulheres imigrantes têm um papel de destaque. Os extremismos, que têm ascendido a par com as políticas de Donald Trump, assombram-nas mas não as fazem tremer, nem recuar. Temporalmente, La Leyenda Negra passa-se quando, em 2018, saiu a notícia que o Presidente dos Estados Unidos da América iria retirar o apoio TPS (Temporary Protected Status) a mais de 400 mil migrantes, mais de 250 mil deles oriundos do El Salvador (abrangidos por este estatuto desde os terremotos de 2001), como a protagonista, que ficariam em risco de deportação.

Ao mesmo tempo, eis que a adolescência traz a autodescoberta, bem como o despertar do amor, da revolta e da sexualidade. que desconcentram o foco da protagonista - e comprometem o decorrer da longa-metragem. Aleteia é uma protagonista determinada, que sabe o que quer. Um pouco mais de ousadia quando confrontada com a sua colega bully faria dela uma personagem mais consistente e menos insegura. Mas a adolescência é um turbilhão de emoções e, em La Leyenda Negra, os problemas parecem juntar-se todos ao mesmo tempo, ocupando mais espaço na cabeça de Aleteia e no ecrã.


E ainda que a temática política e cultural seja menos explorada do que se esperava, Patrícia Vidal Delgado continua a marcar a diferença e a fazer o seu caminho com determinação, talento e boas intenções. La Leyenda Negra é, essencialmente, um grito de revolta contra as injustiças da era Trump.

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