sexta-feira, 30 de outubro de 2020

Doclisboa'20: Automotive (2020), de Jonas Heldt

*6/10*

Automotive, de Jonas Heldt, é mais um dos filme do programa Corpo de Trabalho do Doclisboa'20. Com foco na indústria automóvel, o documentário aborda a precariedade laboral e o crescendo dos automatismos (temas também visados no sul-coreano Underground, de Jeong-keun Kim), em mais um retrato do mercado de trabalho dos tempos actuais.

"Qual o valor do trabalho na era da revolução digital? Na Audi, Seda (20 anos) organiza peças na linha de montagem robotizada. Sonha ter o seu próprio Mercedes e não tem vontade de casar e ter filhos. Eva (30 anos) gosta de ir de bicicleta para o trabalho. A trabalhar como caça-talentos para a Audi, procura especialistas para automatizar a fábrica. Eva quer viver com a namorada nas Caraíbas e deixar de trabalhar. Sabe que o seu emprego será substituído por algoritmos. Duas representantes de uma geração para quem o trabalho não é uma certeza nem um factor de identidade."

O tom fortemente sarcástico de Automotive intercala as histórias de duas mulheres que trabalham para a Audi, com funções e vínculos contratuais muito distintos. Seda é precária e é dispensada a meio do documentário - que a acompanha na luta que se segue por um posto de trabalho -, Eva tem uma boa posição e é ela quem procura os melhores especialistas. Ambas têm sonhos, sabem que o mercado de trabalho atravessa dificuldades e que a automação vai ganhando terreno. A par dos testemunhos das duas jovens, Heldt entrevista ainda um líder sindical, e ainda responsáveis da Audi ou da Imperial, que se embrenham em discursos vazios e artificiais sobre o bem que fazem aos seus funcionários.

Automotive apresenta-nos ainda algumas imagens de arquivo promocionais da Audi, contrapostas com a realidade vivida nas fábricas na actualidade, onde apenas máquinas automatizadas se movimentam nos grandes armazéns vazios de gente. E a comparação desta evolução é um dos pontos fortes e mais assustadores do documentário.

Jonas Heldt cria um filme com personalidade, mas que perde por parecer muito encenado - e, por vezes, até demasiado intrusivo na vida privada de Seda e de Eva. Ainda assim, é mais um bom retrato das mudanças que a tecnologia vem trazer ao futuro do trabalho, reduzindo-o a algo maquinal, cada vez mais isento de humanidade.

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