*6/10*
Entre o realismo social das duas primeiras partes (1. Nós Somos os Mesmos e 3. O Corpo de Laura) e o experimentalismo, mais subjectivo e quase surrealista da última (2. Tudo Vai Ficar Bem), Desterro, de Maria Clara Escobar, fez parte do programa Deslocações do Doclisboa'20.
"Um casal de classe média tenta a todo custo manter a estrutura que os segura. Um dia, Laura, a esposa, vai embora, deixando para trás o marido e o filho. Em sua viagem, Laura encontra com outras mulheres e consigo uma nova possibilidade de ser. Mesmo com um futuro trágico à bater a porta."
Carla Kinzo é Laura, a protagonista, responsável por todos os desvios da acção e pelo caminho a seguir. Ela não se sente bem no lugar onde pertence, se é que pertence a algum lugar. A viagem será uma oportunidade de reencontro consigo mesma, a viver entre sonhos e pesadelos, ou um renascer das cinzas.
Há que destacar o trabalho estético e sonoro de Desterro, onde planos, efeitos sonoros e iluminação nos dão muitas pistas, paralelamente aos diálogos e silêncios dos personagens.
Desterro não será um filme fácil de ver e assimilar, já que sofre uma brusca mudança de tom no seu último acto (cronologicamente, a segunda parte). E este é mesmo o grande momento da longa-metragem, uma fuga à vida real num autocarro de longo curso, repleto de testemunhos ricos e profundos de mulheres fortes e emancipadas, mas à deriva - Georgette Fadel, Isabel Zuaa e Barbara Colen proporcionam-nos intensos monólogos sobre o que é ser Mulher.
Maria Clara Escobar criou um filme metafórico e simbólico, mas cujo âmago apenas se atinge no capítulo final, tão misterioso e envolvente, como inesperado (impossível resistir à dança ao som de Ana Maria, do Trio Odemira).
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