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quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

Crítica: Mank (2020)

"It's the best you've ever written."
Joe Mankiewicz

 
*7/10*

David Fincher criou em Mank uma homenagem a um homem e a uma era do Cinema - os anos 30 do século XX. O processo de criação de Citizen Kane dá o mote para a exploração - em jeito de guião - do universo dos estúdios, numa Hollywood a sentir as sequelas da grande crise de 1929.

Recuamos à década de 1930, onde acompanhamos, através da perspectiva do mordaz e alcoólico argumentista Herman J. Mankiewicz (Gary Oldman), as lutas e dissabores da indústria cinematográfica, enquanto tenta acabar o argumento de Citizen Kane, de Orson Welles, em contra-relógio.

Com argumento de Jack Fincher (pai do realizador, falecido em 2003), David Fincher cria um filme que lhe é íntimo e pessoal, numa homenagem ao pai e, por consequência, ao papel do argumento num filme. A acção desenrola-se em torno das experiências que Mankiewicz teve ao longo da década 30 e o inspiraram a escrever a história do filme de Orson Welles.


Entre flashbacks, assistimos a esses momentos-chave, onde somos capazes não só de construir a personalidade do protagonista; de perceber a sua relação com a mulher, mas igualmente com o irmão, actores, colegas ou patrões; acompanhar a dinâmica dos estúdios e ainda a época histórica em que tudo acontece: pós-Grande Depressão, ascensão do nazismo e início da Segunda Guerra Mundial. A política entra inevitavelmente em cena, não apenas pelas referências a Hitler, como pelo papel da propaganda do cinema na modelação do pensamento das massas.

Gary Oldman está irrepreensível nos maneirismos que incorpora para interpretar um homem frágil e doente, alcoólico e com gosto pelas apostas perigosas, que diz o que pensa sem receios. Na pele de Marion Davies, Amanda Seyfried tem um papel pequeno mas relevante para a acção. A elegância da actriz alia-se ao desalento de uma mulher que sente que a carreira está a perder fulgor e a idade vai passando.


Tecnicamente irrepreensível, Mank é realmente capaz de nos transportar para os filmes da época que retrata, quer por filmar a preto e branco, como pelo excelente trabalho de som. Caracterização e direcção artística compõem o que falta para esta viagem no tempo ser total.

Mank fará as delícias dos cinéfilos pelo mundo que retrata, com pormenores que apenas os mais conhecedores irão apreender, mas é acessível a todo o público, ao traçar uma biografia entusiasta de um nome pouco reconhecido na História do Cinema, precocemente desaparecido e afundado entre o álcool e os mitos que o rodearam.

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