quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

Crítica: Malcolm & Marie (2021)

"You know, life is gonna get easier, but it's also gonna get harder."
Marie


*7/10*

Malcolm & Marie, de Sam Levinson, introduz-nos num ambiente pesado e desconfortável, que, inicialmente, quer calar a revolta e a mágoa entre os elementos de um casal, para, depois, disparar, sem travões, para todos os lados, em ataques cerrados. Levinson transforma as palavras em armas e leva os dois actores - e a plateia - ao limite.

"De regresso a casa após a estreia do seu filme, o cineasta Malcolm (John David Washington) e a namorada, Marie (Zendaya), aguardam o veredito da crítica. Porém, o serão sofre uma viragem surpreendente quando revelações sobre o relacionamento do casal emergem e põem à prova o seu amor."


Malcolm & Marie
parte-nos o coração por ter tanto potencial e perder o rumo. A relação dos protagonistas pode ser uma analogia à do espectador com o filme: amor/ódio. Sam Levinson dotou o seu filme de uma teatralidade imensa: duas personagens, um único espaço, uma madrugada, diálogos e monólogos intensos, com actores que enchem o ecrã. Todavia, o excesso de palavras torna as boas ideias vazias e desproporcionais às emoções do elenco. Duas interpretações tão poderosas, batem-se em diálogos inflamados e violentos, mas caem na repetição constante, esgotando temas, mágoas e razões de ambos os lados.

Deambulando sobre os clichés das relações entre críticos e realizadores, mas também sobre os silêncios entre casais, a dificuldade de comunicação, a ofensa como modo de ataque (e defesa), a brutalidade das palavras, os agradecimentos e elogios sinceros que ficam por dizer, Malcolm & Marie caminha em círculos repetitivos, até ao monólogo final de Marie.


John David Washington e Zendaya batem-se com tudo o que têm, num duo onde ela se afirma mais nos silêncios e no que fica por dizer, enquanto ele explode (ela implode) e dramatiza todas as situações. Malcolm é um homem narcisista e confiante - pelo menos aparentemente - e parece ter tudo sobre controlo; já a fragilidade de Marie reside no passado ruinoso que superou, lutando agora, através das palavras, pelo seu lugar na relação - e na vida do companheiro. Washington alterna entre o entusiasmo, o carinho e a agressividade; Zendaya, entre a contenção, a revolta e a emoção, supera-se; os dois são uma explosão de sentimentos.

Filmado em película de 35 mm, a preto e branco, a longa-metragem tem um visual elegante e sóbrio, com a iluminação num papel de destaque. Para a densidade emocional da acção, muito contribuem planos e movimentos de câmara, que deambula por toda a casa e jardim e onde até as janelas funcionam, várias vezes, como quadros (o plano dentro do plano).


Malcolm & Marie podia ser muito mais significativo e profundo, mas Sam Levinson deixou-se levar pela vaidade de Malcolm, roçando o pretensiosismo do estilo acima da substância. Contudo, o amor não nos deixará indiferentes e, mesmo sem querer, seremos seduzidos.

Sem comentários: