quarta-feira, 10 de março de 2021

Crítica: Time (2020)

"Because what I clearly understood was that our prison system is nothing more than slavery. And I see myself as an abolitionist."
Fox Rich


*8/10*

Time é um documentário muito íntimo que nos leva às injustiças do sistema prisional e judicial dos Estados Unidos da América, especialmente se os condenados forem afro-americanos. Seguimos uma família ao longo de quase 20 anos, numa luta pela liberdade, superação e pelo direito à família.

Somos apresentados a Fox Rich, uma empresária e mãe de seis rapazes, que tem passado as últimas duas décadas numa campanha pela libertação do seu marido, Rob G. Rich, sentenciado em 60 anos de prisão por um assalto que ambos cometeram nos anos 90, num momento de desespero. O filme junta os vídeos caseiros que Fox gravou para Rob ao longo dos anos, num registo do dia-a-dia da família, às filmagens da realizadora Garrett Bradley, que acompanha a jornada de resiliência, amor e dedicação desta mulher contra o sistema prisional dos EUA.


A realizadora constrói um documentário de elogio a uma mulher lutadora e com uma força inesgotável, que após sair da prisão reconstruiu a sua vida, criou e educou os filhos, e tornou-se numa activista pelos direitos dos reclusos mais pobres ou não brancos. A certo momento, compara-se o sistema prisional norte-americano aos tempos da escravatura e a analogia tem muito de verdade. Basta ver o desrespeito que os tribunais têm pela família de Fox e Rob.

Ver o crescimento desta família ao longo de 20 anos, das imagens de Fox grávida dos gémeos, vê-los pequenos a falar ao telefone com o pai, os mais velhos a formar-se e construir o seu caminho, e o mais novo com os olhos a brilhar de curiosidade sempre que ouve a voz do pai, cria uma ligação pouco comum no cinema com os seus protagonistas reais. O trabalho de montagem em muito contribui para esta conexão, aproveitando da melhor forma as muitas horas de material que Fox Rich filmou para o seu marido.


Time é um desabafo e uma denúncia; um grito de revolta e de amor incondicional. São 20 anos de uma família separada, mas resistente e resiliente. Tudo pela justiça e humanidade do sistema.

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