quinta-feira, 29 de abril de 2021

Crítica: Mais Uma Rodada / Another Round / Druk (2020)

"We're not alcoholics. We decide when we want to drink. An alcoholic can't help himself."

Nikolaj

*9/10*

Thomas Vinterberg convida-nos para um copo, para que o álcool de Mais Uma Rodada (Druk / Another Round) nos leve a uma reflexão sobre a vontade de viver. Esta ideia aparentemente louca não provoca ressacas, pelo contrário, é capaz de nos divertir e comover, na mesma medida.

"Martin e três colegas, professores cansados do ensino secundário, embarcam numa experiência com base na teoria de que o ser humano devia nascer com uma pequena quantidade de álcool no sangue e que a embriaguez moderada abre as mentes para o mundo ao redor, diminuindo os problemas e aumentando a criatividade. Se Churchill venceu a Segunda Guerra Mundial ébrio, quem sabe o que alguns copos podem fazer por eles e pelos seus alunos? Os resultados iniciais são positivos e o pequeno projeto dos professores transforma-se num estudo académico sério."

Mais Uma Rodada deambula entre o delírio e a depressão, onde quatro homens, estagnados e desmotivados com a vida, se propõem a mudar comportamentos, em busca de todo o seu potencial. O álcool aumenta-lhes a confiança e a autoestima - ou assim querem acreditar -, mas será que é a solução para corrigir o que os levou à situação onde se encontram?

Mads MikkelsenThomas Bo Larsen, Lars Ranthe e Magnus Millang formam um grupo com potencial, que acompanhamos com empatia, curiosidade e alguma preocupação. Dos quatro, Mikkelsen destaca-se na crueza com que demonstra as emoções, mas igualmente no carisma que detém e nos movimentos fluidos e seguros. Thomas Bo Larsen, o professor de educação física, Tommy, é outro dos desempenhos marcantes de Mais Uma Rodada, um homem fragilizado e descontrolado, adorado pelos alunos.

Seja nos dias de aulas, potenciados pelo álcool; ou fora das horas de expediente com 0% de taxa de alcoolémia; seja ainda nas reuniões de avaliação da experiência dos quatro amigos - onde quase se passam todos os limites -, a banda sonora da longa-metragem é contagiante, deambulando entre a música clássica e temas mais pop (What A Life, de Scarlet Pleasure, marcará o ponto alto), tão inspiradora como libertadora - tal qual o álcool.

Thomas Vinterberg criou um filme muito pessoal, dedicado à filha Ida, que adorava o argumento, mas faleceu durante as filmagens. Em nome dela, o realizador quis que Mais Uma Rodada fosse uma celebração da vida - e conseguiu. Entre altos e baixos, Martin e os colegas fazem a caminhada, por vezes dolorosa, até à cena final: o êxtase total. A superação acontece para todos, à sua maneira, com momentos de cumplicidade e experiências difíceis, onde são postos à prova.

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