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quarta-feira, 28 de abril de 2021

Crítica: Uma Miúda com Potencial / Promising Young Woman (2020)

"Can you guess what every woman's worst nightmare is?"

Cassie

*8/10*

Uma Miúda Com Potencial (Promising Young Woman) é um thriller em tons de rosa, onde Carey Mulligan encarna a vingança feminista. A estreia de Emerald Fennell na realização de longas-metragens alia a angústia ao humor sarcástico, num resultado extremamente desafiador.

A sinopse é simples e directa: "Uma jovem assombrada por uma tragédia no seu passado, vinga-se nos homens que tenham o azar de se cruzar com ela."


Um revenge movie no seu esplendor, com características que o tornam singular: provocador, sensual, feminino, delicado e inteligente. Uma Miúda Com Potencial destaca-se da multidão de filmes do género pela personalidade forte e pelo confronto constante aos preconceitos da sociedade actual - ainda tão machista -, através de atitudes, valores e, principalmente, dos crimes de violação e assédio sexual tão escrutinados nesta obra. 

Através da protagonista, Cassie, o filme de Emerald Fennell quer fazer justiça, enquanto joga, ironicamente, com a culpabilização da vítima e o elogio do criminoso. Do título às situações retratadas, Uma Miúda Com Potencial tudo discorre em redor de abusos e da noção de consentimento. O argumento constrói-se a partir daí e, dividido em vários actos, é inesperado até ao fim (mesmo que ambicionássemos uma conclusão bem mais inspirada).


Uma Miúda Com Potencial é um filme cheio de cor em contraste com a dor que suga a vitalidade e a vontade de viver de Cassie. Obviamente, reconhecemos que a nossa protagonista tem sérios problemas psicológicos, resultado do trauma que sofreu há alguns anos. Consome-se, definha psicologicamente e revela traços de sociopatia. Carey Mulligan revela-se surpreendente na pele desta personagem vingativa e corajosa. A aparente fragilidade e delicadeza da actriz, bem como a forma como é capaz de se transformar enquanto Cassie, fazem dela a mais acertada escolha para o papel.

E a par da direcção artística, da fotografia e do guarda-roupa cheios de cor (onde o rosa abunda), tão harmoniosos de dia, tão decadentes à noite, também a banda sonora tem um papel fulcral na formação da identidade do filme, aparentemente inocente e pop, mas muito mais agressivo e inteligente. Eis que encontramos Downhill Lullaby, de Sky Ferreira, Stars Are Blind, de Paris Hilton, versões de Toxic (Britney Spears) ou It's Raining Men, entre outros temas certeiros.


Eis a garra feminista, sem medos ou vergonha, que retrata a maioria das personagens masculinas como pouco inteligentes, enfrenta os piropos ordinários e traça o seu caminho contra as expectativas dos outros. Uma estreia ousada para Emerald Fennell. Que continue a criar boas histórias e quebrar tabus.

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