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segunda-feira, 17 de maio de 2021

Crítica: Oxigénio / Oxygène (2021)

*6/10*

Em Oxigénio, Alexandre Aja usa a claustrofobia como arma narrativa, potenciada ainda mais pela aura de mistério sempre presente, num filme de ficção científica para a Netflix.

"Uma mulher acorda numa cápsula criogénica sem se recordar de quem é. Com o oxigénio a esgotar-se rapidamente, ela tem de recuperar a memória para conseguir sobreviver."

Muito ao estilo de Enterrado (Buried), de Rodrigo Cortés, eis uma versão sci-fi da claustrofobia cinematográfica. Se, no filme de 2010, tínhamos um homem fechado num caixão, agora a protagonista é uma mulher trancada numa unidade criogénica; para ambos, a única forma de contacto com o exterior é a partir de chamadas telefónicas - em Oxigénio adicionamos um assistente inteligente (Mathieu Amalric) à acção.

O terror de acordar num local fechado e sem espaço para grandes movimentos é comum aos dois filmes, bem como a forma como se desenrola a história. Mas em Oxigénio, o progresso científico parece estar na origem da situação em que a protagonista, Liz, se encontra. Sem memória, nem forma de escapar, a ajuda externa é complexa e as informações confusas. A claustrofobia adensa-se à medida que o oxigénio se esgota e as descobertas não são tranquilizantes. 

Alexandre Aja é capaz de construir um ambiente angustiante e enclausurante, mas não cria nada que já não tivéssemos visto noutros filmes do género. O argumento de Christie LeBlanc torna-se cada vez mais complexo e, até certo ponto, previsível.

Mas a verdadeira fonte de oxigénio do filme é Mélanie Laurent, numa grande interpretação, capaz de passar por estados de espírito tão diversos em pouco tempo - e limitada no espaço -, num misto de emoções que vai da esperança, à confusão, descrença, desespero, raiva e pânico. Espectador e protagonista têm o mesmo nível de conhecimento desde o momento em que Liz acorda, e as descobertas vão sendo feitas ao mesmo tempo, dentro e fora do ecrã. Partilhamos o mesmo conflito interior, as mesmas dúvidas, fazemos suposições, questionamos as contradições e torcemos por ela, já que a empatia é inevitável.

Mélanie Laurent segura o filme com a mesma força com que a personagem não perde a vontade de sobreviver e é ela que nos faz suster o fôlego e acompanhar Oxigénio, com curiosidade, até ao fim.

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