Continuando a acompanhar os filmes da Competição Nacional do Curtas 2021, seguimos para a análise de Nha Sunhu, de José Magro, Nada nas Mãos, de Paolo Marinou-Blanco, O Lobo Solitário, de Filipe Melo, e Lethes, de Eduardo Brito.
NHA SUNHU, José Magro · Portugal · 2021 · FIC · 20’
"Issa é um jogador de futebol da Guiné-Bissau que, como tantos outros jovens africanos, procura uma oportunidade para jogar em Portugal e, assim, chegar às ligas principais e cumprir o sonho de se tornar profissional. "
Em Nha Sunhu, José Magro cria uma docuficção divertida e desconstrutiva. A partir de histórias reais, o realizador traz para o ecrã uma reflexão sobre os sonhos e as dificuldades que os jovens futebolistas africanos enfrentam quando vêm jogar para Portugal, ao mesmo tempo que é metacinema, criativo e irónico. O nosso protagonista Issa é o solitário jogador de futebol, empenhado e trabalhador, e um actor perante as câmaras que querem captar a sua essência.
NADA NAS MÃOS, Paolo Marinou-Blanco · Portugal · 2021 · FIC · 15’
"A música de Mahalia Jackson (I’m on my way, 1958), que se ouve no primeiro minuto e meio de Nada nas mãos, marca o tom desta curta: numa rotina solitária, Caetano Reconcavinho, que trabalha numa agência funerária a preparar os cadáveres para os seus funerais, vive deprimido desde que a mulher morreu ao cair numa falésia enquanto tirava uma selfie. Determinado em suicidar-se, Caetano pede conselhos a Fausto, um cadáver que está a ser preparado para o funeral e que, numa referência à lenda perpetuada por Goethe, lhe oferece um pacto irrecusável."
Nada nas Mãos é um filme inspirado, que pega na lenda de Fausto para desafiar as leis da vida e da morte - e algumas do cinema. O morto Fausto fala com Caetano, mas também se dirige a nós, que estamos no outro lado do ecrã. E no seu tom, entre a tragédia e a comédia, convida a plateia a esta reflexão pouco séria sobre a morte.
Paolo Marinou-Blanco usa e abusa de planos e enquadramentos geométricos, um humor sarcástico tanto narrativo como visual, e mesmo sem Nada nas Mãos proporciona-nos momentos de bom e desafiador entretenimento.
"O que podem guardar para si as paredes de uma casa? Uma história de vida? De morte? Um segredo? (...) Na mitologia grega, quem atravessasse o rio Lethes apagava toda a memória da sua vida anterior. (...) No centro do filme, uma rapariga toma conta da sua avó, até que surge um pedido impensável."
Eduardo Brito leva-nos a uma aldeia isolada e ao quotidiano de avó e neta. Entre silêncios, poucos diálogos e uma grande comunhão com a Natureza, Lethes apoia-se na mitologia para estabelecer a analogia de um rio que guarda segredos e purifica.
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