Continuamos a análise às curtas-metragens da Competição Nacional do Curtas Vila do Conde 2021. Olhamos agora para Matilde Olha Para Trás, de Ana Mariz, Timkat, de Ico Costa, Miraflores, de Rodrigo Braz Teixeira, e O Teu Nome É, de Paulo Patrício.
MATILDE OLHA PARA TRÁS, Ana Mariz · Portugal · 2021 · FIC · 21’
"Matilde é uma criança que brinca numa propriedade agrícola, imaginando estar noutro espaço. No mundo dela, tudo é perfeito como no cinema, e é por isso é que ela se maquilha, pinta as unhas e veste roupas excêntricas para brincar. Também tem um comando imaginário que desativa as armadilhas que surgem como obstáculos. Na quinta vivem também a sua prima, a sua mãe e a sua avó. Matilde sente-se sozinha e perdida, sem companhia para brincar, uma vez que os adultos têm de lidar com outras preocupações. Matilde não os compreende, nem aos seus problemas."
Tão à vontade em frente à câmara e tão dedicada à sua personagem, a pequena Matilde simboliza os sonhos e criatividade da infância. Uma exploradora nata, com pouca ou nenhuma companhia nas suas aventuras, Matilde procura encontrar alguma diversão em cada recanto da quinta. Se a mãe pode ser, por vezes, companheira de brincadeira, certo é que na maior parte do tempo Matilde está sozinha.
Matilde olha para trás é também um retrato desta solidão na infância, e de algum desapego que as adultas em seu redor parecem demonstrar. Os olhos tristes e desconfiados da protagonista pedem um pouco mais de compreensão e de tempo para brincar, sem que cada aventura no meio da Natureza tenha de parecer assustadora - porque o comando imaginário não desactiva todas as armadilhas, nem cura todas as falhas.
MIRAFLORES, Rodrigo Braz Teixeira · Portugal · 2021 · FIC · 18’
"A partir de um dos subúrbios mais populosos da área metropolitana de Lisboa, Miraflores encena uma divertida comédia de adolescentes, absorvendo os pequenos tumultos destes jovens e das suas poéticas da vida. "
Parcialmente em jeito de falso documentário - que conta sua "história" e apresenta quem por lá vive e trabalha -, Miraflores é um filme sobre um bairro e os seus jovens. Eles que passam os dias entre os locais mais icónicos da freguesia - as rotundas, os prédios altos, a piscina abandonada, a igreja desconcertante -, divertem-se e vivem as primeiras paixões. A cena final da curta-metragem de Rodrigo Braz Teixeira, sem dúvida o momento mais poético do filme, pode ser uma espécie de declaração de amor a uma pessoa, mas igualmente ao cenário dessa paixão.
O TEU NOME É, Paulo Patrício · Portugal/Bélgica · 2021 · DOC/ANI · 24’
"Em 2006, o Porto e o país chocaram-se com a história de Gisberta Salce Jr., transexual brasileira, seropositiva, toxicodependente e sem-abrigo que foi violentamente torturada durante vários dias por um grupo de 14 adolescentes acabando por morrer. Este documentário animado recolhe testemunhos de amigas de Gisberta e de dois dos envolvidos no caso, apresentando diferentes perspectivas sobre o que aconteceu nesses dias de má memória".
O Meu Nome É é um documentário que recupera a história de Gisberta, através de palavras das suas amigas e de dois dos envolvidos no caso. A sensibilidade e detalhe da animação a preto e branco, que dá corpo e espaço àquelas cinco vozes, cria um ambiente de reflexão e análise dos acontecimentos, tantos anos passados.
Paulo Patrício é capaz de escutar e dar a ouvir pontos de vista distintos mas sinceros, ao mesmo tempo que nos coloca questões sobre a discriminação sexual, de género e a transfobia, que ainda se sente actualmente na sociedade. Um trabalho tocante e envolvente.
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