Depois de conhecidos os vencedores do Curtas Vila do Conde 2021, deixamos uma breve análise aos títulos que conquistaram os prémios da Competição Internacional: VO, de Nicolas Gourault, vencedor do Grande Prémio e candidato aos European Film Awards, indicado pelo Curtas; I Gotta Look Good For The Apocalypse, de Ayce Kartal, vencedor do prémio para melhor filme de animação; Farrucas, de Ian de La Rosa, considerado o melhor documentário da competição; e a melhor curta de ficção, L'Enfant Salamandre, de Théo Dégen.
VO, Nicolas Gourault
França - Vencedor do Grande Prémio, para o melhor filme em competição
"A ideia de um carro que seja capaz de conduzir-se a si próprio, de forma autónoma e sem intervenção humana, faz parte do imaginário da ficção científica há muito tempo. Recentemente, devido a diversos avanços tecnológicos e ao investimento de diversas empresas, que viam nesta hipótese uma solução para os seus negócios deficitários, este sonho parecia tornar-se realidade em breve. VO surge então como uma investigação quase forense ao que ocorreu de errado quando, em 2018, um dos testes desta nova tecnologia acabou em tragédia com enorme repercussão mediática: um erro da supervisão humana, uma falha da inteligência artificial, ou um misto dos dois?"
Nicolas Gourault lança a reflexão sob vários pontos de vista, acerca da polémica questão dos carros autónomos. Através de excertos noticiosos, simulações gráficas e testemunhos de pessoas envolvidas, VO é um trabalho dinâmico, actual e cativante.
I GOTTA LOOK GOOD FOR THE APOCALYPSE, Ayce Kartal
Turquia/França - Prémio para Melhor Filme de Animação
"O ano cinemático que passou foi inevitavelmente contagiado pela inédita situação pandémica que se viveu a nível mundial. É também inevitável que esse contágio se manifeste sobre uma forma de comentário em relação ao sentimento de apocalipse mediático que todos atravessamos e as imagens únicas e inesperadas que surgiram, como por exemplo, de espaços subitamente vazios. Em I Gotta Look Good For The Apocalypse, Ayce Kartal recorre a algumas dessas imagens que marcaram este último ano, encontradas no Youtube ou noutras partes da Internet."
Ayce Kartal capta em animação alguns dos principais momentos que se viveram por todo o mundo desde o início da pandemia. Das ruas vazias, ao confinamento, do escape de alguns para a realidade virtual, à tensão familiar, até ao desconfinamento, aos poucos, e à adaptação à nova rotina. Uma experiência entre a melancolia e o humor, onde nem a corrida ao papel higiénico dos primeiros meses escapou.
FARRUCAS, Ian de la Rosa
Espanha/EUA - Prémio para Melhor Documentário
"Uma viagem até El Puche, um bairro periférico esquecido nos subúrbios da cidade espanhola de Almería, revela pelo olhar atento de Ian de La Rosa uma irmandade notável entre quatro raparigas adolescentes. Orgulhosas das suas raízes marroquinas e espanholas – ou melhor, andaluzas –, elas estão conscientes das dificuldades e limitações que a sociedade lhes impõe, apenas por causa dessas origens."
Farrucas percorre sonhos e desilusões de quatro jovens de origens humildes, durante a celebração do aniversário de uma delas. O lixo, que rodeia o bairro onde vivem, denuncia a desesperança e a melancolia que paira sobre as lutas diárias que todas travam para alcançar as metas que tantos lhes negam. Em jeito de docuficção, o realizador Ian de La Rosa filma as protagonistas de forma íntima e muito próxima, reforçando a irmandade entre as quatro amigas, que passa para o outro lado do ecrã.
L’ENFANT SALAMANDRE, Théo Dégen
Bélgica - Prémio para Melhor Ficção
"Florian acreditava que podia comunicar com os mortos através do fogo, com o seu pai. Ele é a criatura mais estranha da aldeia onde vive. Por isso, é perseguido pelos jovens locais, que o maltratam, espancando-o e humilhando-o. De tanto ser julgado como um monstro, acaba por se transformar num e, doravante, terá muitas histórias para contar ao seu pai."
Seja um mundo mágico, invisível, paralelo, ou apenas a imaginação juvenil a trabalhar, certo é que L'Enfant Salamandre é um mergulho num surrealismo inocente, onde não faltam as agruras bem reais de um adolescente. Os bullies não dão descanso ao protagonista, mas nem eles demovem a sua dedicação em reencontrar o pai. No meio das aventuras e descobertas, há portas que se abrem, uma amizade que se constrói, e muitas histórias para contar.
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