quinta-feira, 9 de setembro de 2021

IndieLisboa 2021: Competição Nacional em análise (Parte III)

Seguimos para a análise de mais uma leva de curtas-metragens da Competição Nacional do IndieLisboa 2021. Neste artigo, focamo-nos em Boa Noite, de Catarina Ruivo; Silvestre, de Rúben Gonçalves; e Sopro, de Pocas Pascoal.

Boa Noite, de Catarina Ruivo

"Um filme delicado, qual casa de bonecas, que mostra uma comovente ligação entre avó e neto e como ambos funcionam como o porto seguro um do outro — especialmente quando uma personagem marota tenta incutir-lhes alguns medos."

Boa Noite é um encantador retrato da relação entre uma avó e o seu neto, e dos medos que, em criança ou em adulto, todos temos. Não são precisas muitas palavras para perceber a proximidade dos protagonistas e a fragilidade que ambos, juntos, tornam força. E ainda que a empregada da casa sinta alguma satisfação em assustar o pequeno André, a canção de embalar e o conforto da mão da avó tudo acalma e tudo resolve. 

Catarina Ruivo cria uma história de encantar, filmada como se cada plano fosse uma tela em que a realizadora é a artista. Ficar-nos-ão na memória os belíssimos planos, interiores ou exteriores, onde o trabalho de iluminação pinta no ecrã um cenário de conto de fadas.


Silvestre, de Rúben Gonçalves

"Um protagonista num limbo, com uma situação laboral precária, um poiso doméstico temporário. E uma faceta escondida da sua vida, que revela a poucos."

Rúben Gonçalves traz-nos um filme discreto, tal como o seu protagonista, reservado e misterioso. Silvestre traça o retrato da insegurança constante de uma geração, onde nada é certo, nem nosso, e tão pouco há tempo para sonhar.

A sobrevivência coloca-se, muitas vezes, acima dos sentimentos. A instabilidade da vida de Silvestre contrasta com a calma aparente, mesmo que os seus olhos transmitam muito mais inseguranças e receios do que os que quer deixar transparecer. Rúben Gonçalves cria uma curta-metragem agridoce, com planos que ficam connosco.


Sopro, de Pocas Pascoal

"Um documentário que passa tempo com Marion e Peter, um casal holandês que perdeu a sua quinta no fogo que arrasou Pedrógão Grande no Verão de 2017. No rescaldo da catástrofe, tentam reconstruir o que podem, com o pouco que têm."

Sopro leva-nos ao rescaldo da tragédia dos incêndios de 2017. Pocas Pascoal entra e partilha a intimidade com o casal protagonista, que lhe abre o coração e as portas da sua caravana. A desolação da paisagem queimada, contrasta com a perseverança e esperança do casal, que nunca desiste nem baixa os braços. 

No rosto, marcado pela idade, espelham-se a desilusão com os que governam ou com quem não cumpre o combinado, e a tristeza de assistir à demolição do que resta da sua casa. Mas tudo se suporta com a rotina do campo, junto dos animais e dos trabalhos diários. A música e a poesia de Peter, a calma e força de Marion juntam-se ao verde começa a ressurgir do meio das cinzas. E resta a esperança de um futuro melhor.

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