quinta-feira, 7 de outubro de 2021

Crítica: Corre! / Run (2020)

*6.5/10*

O realizador Aneesh Chaganty aposta forte na sua segunda longa-metragem, Corre!, um thriller psicológico, que coloca em oposição uma mãe obsessiva e a sua filha doente, que se desloca numa cadeira de rodas.

"Dizem que não se consegue escapar ao amor de uma mãe, mas para Chloe, mais do que um conforto, o amor maternal é uma ameaça. Há algo de antinatural, mesmo sinistro, no relacionamento entre Chloe (Kiera Allen) e a sua mãe, Diane (Sarah Paulson). Diane criou a filha em total isolamento, controlando todos os seus movimentos desde o nascimento, e há segredos que Chloe só agora começa a entender."

Corre! está carregado de tensão em cada frame, absorvido por uma atmosfera opressiva, onde convivem o isolamento e o desejo de superação da protagonista. Se, por um lado, Chloe é independente na sua rotina em casa, apesar das limitações para se deslocar - tem, contudo, uma casa adaptada -, por outro, os extremos cuidados da mãe, bem como a sua insistência em controlar tudo o que rodeia a filha, retiram-lhe parte da autonomia.

Os dados estão lançados para se criar o suspense, o mistério e o escalar do desespero e dos transtornos psíquicos das personagens. Aneesh Chaganty é exímio em criar este ambiente opressivo, estendendo-o à plateia. Os segredos mantêm-se bem guardados, ainda que se encontrem alguns clichés do género. O desfecho anticlimático não faz jus ao enorme potencial de Corre!, e a complexidade das suas protagonistas merecia, sem dúvida, um final mais inspirado. 

Fabulosas são as duas interpretações femininas: a mãe, Diane, no corpo de Sarah Paulson, inteligente e obcecada, numa performance aterradora da actriz; e Chloe, a jovem Kiera Allen (ela própria numa cadeira de rodas desde 2014), que mostra como a expressão "presa a uma cadeira de rodas" nunca fez tão pouco sentido. Combativa e perspicaz, Chloe contraria todas as expectativas para uma doente na sua condição. Num desempenho tão físico como psicologicamente desgastante, Allen supera-se e surpreende-nos, com uma prestação que ofusca quem com ela contracena. Eis como o talento está muito acima das limitações físicas.

Aneesh Chaganty está cheio de ideias e referências inspiradoras - Hitchcock será, com certeza, uma das principais - e só precisará de deixá-las amadurecer para atingir o topo. Um realizador cujo trabalho será para seguir com interesse.

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