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segunda-feira, 13 de dezembro de 2021

Opinião: Minisséries - Anne Boleyn (2021)

*7/10*

Ana Bolena foi rainha durante apenas três anos mas teve uma influência sobre o reinado de Henrique VIII que incomodou muita gente. Uma mulher que gostava do poder e desafiou o patriarcado da época. Se foi controversa e odiada durante o tempo em que viveu, era de esperar que a série sobre ela, do Channel 5, disponível na HBO Portugal, fosse só por si causar desconforto. 

Não vivêssemos nós numa era de extremismos e ódios exacerbados, e a opção de colocar uma actriz negra como protagonista poderia ser vista com orgulho e ousadia. Todavia, a minissérie Anne Boleyn tem sido polémica, principalmente, pela reinvenção de um passado sem discriminar cores de pele - um dos seus maiores trunfos enquanto experiência televisiva.

São apenas três episódios que seguem os últimos meses da mãe da rainha Elizabeth I de Inglaterra, entre a pressão de gerar um herdeiro para o trono, as preocupações com a política do reino e em garantir o melhor futuro possível para a filha.

Escrita e realizada por mulheres - Lynsey Miller na realização e Eve Hedderwick Turner no argumento -, Anne Boleyn conta a História sob uma perspectiva feminina, a da rainha, com toda a sensibilidade, delicadeza e empoderamento que lhe são devidos.

Do auge, filma-se a decadência de Bolena, até à traição, ao momento da execução, sem que, em momento algum, ela perca a dignidade. Dos momentos em que transpira confiança, grávida e apaixonada; à crueldade do parto e fragilidade que se segue, mais ainda perante as infidelidades do rei e as conspirações de Thomas Cromwell, Bolena cai e reergue-se contra todos. Jodie Turner-Smith atravessa as várias fases com nobreza, elegância e majestade, num desempenho a que ninguém ficará indiferente.

E eis o que terá incomodado os críticos: uma protagonista negra que veste a pele de uma rainha infame, cuja morte envergonha a História da coroa inglesa, mas que morreu de cabeça erguida. Uma série feminista - com as devidas liberdades criativas, mas respeitando o essencial dos livros de História- que lhe dá o valor, o poder e o carisma que lhe roubaram.

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