terça-feira, 4 de janeiro de 2022

Crítica: Pig - A Viagem de Rob (2021)

"I'd like to speak to the chef."

Rob


*8/10*

Pig - A Viagem de Rob é a primeira longa-metragem de Michael Sarnoski, um filme cru e melancólico sobre solidão, perda e amor incondicional.

Rob (Nicolas Cage) vive na floresta isolada do Oregon, sozinho, com excepção da sua única amiga, uma fiel porca de procurar trufas. Rob vende as caras e raras trufas que forrageia a um jovem empresário (Alex Wolff), em troca dos poucos bens com que vive. Mas a vida tranquila de Rob termina quando forrageiros rivais o atacam violentamente e lhe roubam a porca, deixando-o ferido. Vê-se agora forçado a aventurar-se no submundo dos restaurantes de Portland, reencontrando também às memórias de um passado que abandonou.


Tão simples como comovente, o filme de Michael Sarnoski retira o melhor de cada cena e de cada personagem, numa incansável jornada para recuperar a companheira do protagonista, que bate de frente com um passado do qual fugiu há 15 anos. Pig é sombrio e frio, tal como a tristeza e nostalgia, que Rob carrega sobre si e se reflecte numa expressão fechada, poucas palavras e emoções reprimidas.

E, para além do resgate da porca raptada, toda a história gira em redor de um ingrediente caro e muito apreciado nos restaurantes, as tão raras e valiosas trufas. Os laços emocionais enfrentam a ambição e a ganância dos homens poderosos da cidade.


O lugar da gastronomia em Pig surge, desde logo, no título de cada capítulo - qual menu de degustação. E, no decorrer da longa-metragem, adensa-se o simbolismo da importância que uma refeição pode ter na vida de alguém. Todos estes e outros paralelismos e subtilezas narrativas tornam a obra de Michael Sarnoski emocionalmente superior. 

Nicolas Cage tem um desempenho exímio como Rob. A sua aparência suja e descuidada, as feições severas, que espelham tristeza e raiva, criam uma figura quase inatingível, que cria sentimentos de respeito, medo e admiração por onde quer que passe. A relação que vai criando com o jovem Amir, e a batalha que trava para recuperar a sua porca de estimação revelam o seu lado mais humano. No decorrer da acção, há um envolvimento inevitável com o protagonista e com a forma que encontrou para lidar com a dor e a memória.


A banda sonora, que alterna entre música clássica e country, acompanha personagens e plateia nesta viagem entre os dois mundos a que o protagonista está inevitavelmente ligado: a natureza e a alta gastronomia. E Sarnoski consegue enredá-los com subtileza e astúcia, qual prato de assinatura.

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